Saturday, December 22, 2007

Merry Christmas

... and happy new year!

Ouvindo: PApai Noel e suas Renas Falantes - Jingle Bells

Monday, October 29, 2007

Escolhe um Dedo

é hora de rir. Nunca havia visto um nome mais sugestivo para o programa que anima as tardes na Record, oferecendo as melhores pegadinhas da TV canadense narradas por uma apresentadora de coxas a mostra e longos cabelos loiros encaracolados comprados em algum salao da moda. o telespectador se sente compelido a rir, o nome da atraçao continua ali, no canto da tela, lembrando a todos que estao ali para rir, nao importa do que. Lembro-me de outras tardes, quando a televisao andava esquecida durante a tarde, desligadinha como deveria quase sempre estar e a pracinha em frente garantia todas as risadas que a emissora do bispo hoje oferece. Nessa época os caras da pracinha dificultavam a vida dos aspirantes a piadista soltando uma piada sempre que a anedota anterior era rejeitada por falta de graça ou por falta de aviso do piadista que "é hora de rir". Os caras mais velhos olhavam um pro outro e diziam: escolhe um dedo. O outro escolhia um dedo qualquer e o dono dos dedos fazia cocegas em si mesmo e ria desesperadamente. Era a humilhacao do piadista e naquela época eu nao entendia bem o sentido da brincadeira. Hoje chove muito durante a tarde e eu enfim entendo que "Escolhe um Dedo" daria um otimo programa de TV. Acho que falta orientaçao para o publico, dizer aos telespecatdores, pricipalmente aos mais fiéis, qual a hora de dar risada. Ensinar alternativas para o publico para eventuais falhas no processo risorio da piada. Legendas talvez seriam uteis, mais ainda excluiriam os inumeros analfabetos que assistimos televizao. Um Mestre de Cerimonias, tipo no circo. Comentarios de uma apresentadora de formas tendenciosas e trilha sonora animada por cima do enlatado canadense. Ah se os caras da pracinha estivessem ali, pederiam a conta dos dedos escolhidos e das cocegas sem efeito, do riso falso. Talvez o grande trunfo do Chaves e de outros programas que usam "claque", as risadas gravadas, ridas bem alto a cada piada. O publico acompanha o programa, se sente compelido a rir. Talvez isso lembre um pouco Fausto Silva, alias, o homem que apresenta o domingo desde que eu me lembro da TV no Domingao. o loco, meu, agora, mais do que nunca, é hora de rir com as videocassetadas. Outro domingo que me lembro bem é comandado por outro highlander, Silvio Santos. Hoje o homem, com seu microfone no pescoço (ha gente que creia que o microfone faça parte de seu corpo) usa a paciencia do telespectador para entregar a si mesmo, como o Empresario de Comunicaçao do Ano, eleito pela Revista Marketing & Essas Coisas. Silvio Santos usa sua tarde passada na casa da vo, com ressaca do sabado e indigestao da macarronada, da gelatina colorida que a tia nao falha para entregar ao Grupo SS o premio de imovel do ano, pela contrucao do hotel Xis no litoral de Santa Agripina. Escolhe um premio. Escolhe um dedo. Um dia ouvi alguem dizer que o botao que liga a Tv é o mesmo que a desliga. Na falta uma filosofia mais profunda para a minha TV brasileira, fico com essa do botao, nunca me esqueço de onde ele esta. Mas antes de desligar, resolvo mexer no botao que muda os canais e dou uma paradinha na TV Gospel. O Apostolo Leonardo veste paleto de marca com gola aberta, camisa combinando. Relogio dourado, pulseira tambem, so nao mais douradas que os aneis de doutor. Letreiros mostram, de acordo com a fala do Apostolo, os endereços do Ministerio Plenitude. Quando o Apostolo estara presente no Ministerio. Promete cultos com a presença de seus 13 profetas, convida a todos para o seu cantinho do céu. Depois de mostrar todas as vantagens do Ministerio Plenitude, é hora do espectador abençoar o Apostolo e seu Ministerio com a quantia que for possivel. Gostaria que abençoar fosse uma figura de estilo minha, mas Leonardo foi quem a criou. Podemos abençoar o Ministerio com 30, 50, 100 reais com a garantia que o Apostolo levara seu nome para rezar em cima do Monte. Agora era a hora que o Escolha um Dedo entrava em açao. Quando ele falava sobre rezar em cima do Monte, entrava a traduçao da piada com um maluco rezando em cima de uma montanha de dinheiro. Silvio Santos aparece votando em si mesmo no Concurso da Revista Marketing & Essas Coisas. é a piada garantida, nao perderemos o publico por falta de compreensao. Os pidadista nao serao mais humilhados e nunca mais os caras da pacinha vao vir com essa de Escolhe um Dedo.

Ouvindo: Ez3kiel - Versus

Wednesday, September 05, 2007

Parabéns!

O cartão era escrito em letras de forma, pequenas e desenhadas letras de forma que marcavam o papel dos dois lados. O papel era comprado a bom preço, de gosto refinado dentre opções curiosas. Dizia mais ou menos assim, enquanto observado pela balconista:

Meu irmão,

Quero dizer-te o quanto sou feliz por estar mais uma vez ao seu lado, passando mais um ano com você. Sabes bem de tudo o que nos une, que nos faz fortes e que não nos deixa esquecer de casa jamais. Sabes bem da saudade que aparecia na minha cabeça com esse seu sorriso desarmador. Que sejas tudo o que sempre desejaste ser. Ainda acho pouco falar só isso, mas qualquer desejo de felicidade escrito em uma folha de papel vai parecer vazio diante disso.

Queria que o cartão tivesse mais espaço, ou que talvez o verso não fosse tristemente invernizado, recusando a tinta da caneta apertada sobre o papel. A ponta de seu dedo toma vários tons de vermelho, de acordo com a pressão. Terminara.

-Que um dia inventemos palavras que realmente significam o que queremos dizer. Tudo será mais fácil, desejar os pêsames, os parabéns, as desculpas.
- Tenho a certeza que amar será mais fácil também, senhor. Queres um envelope?

Ouvindo: Chico Science & Nação Zumbi - Samba Makossa

Monday, August 27, 2007

Benvindo a SP, o primeiro roubo que sofri

Andava de novo por aquelas ruas. Questão de reconhecimento. Ouvindo todas as vozes da rua. Reconhecendo rostos, perfis e probabilidades. Traçando arquétipos em poucos segundos, analisando por onde andava. Confesso as saudades e a alegria de ver que estamos bem em SP. As pessoas dormindo estiradas nas calçadas continuam sem mexer com as pessoas, ficam lá, bem paradinhas. Não sabemos se estão vivas, mortas ou passando um tempo no purgatório, alheios à cidade que corre aos seus pés. Continuava avaliando tudo, a moda, o comportamento, os preços. Foi quando paguei o preço da cidade. Foi quando me distrai um pouco mais. Olhei demais pro lado. Marquei. Ela estava lá me vigiando desde a hora que eu cheguei. Quanta inocência. Não pude avaliar, talvez subestimei o perigo que ela representava. Roubou na cara dura, na luz do dia. Assim que ela me viu desprotegido, a escada rolante roubou meu chinelo. E nem fugiu, nem correu. Benvindo a São Paulo, mas não recomendo o passeio descalço.
Ouvindo: Racionais MC´s - Ao Vivo

Thursday, August 16, 2007

Small cigarrete business

-Small cigarrete business.
Era a unica frase que ele me disse repetidas vezes, sempre a piscar o olho esquerdo e a abrir um sorriso franco e misterioso. Coisa de moleque maroto, que estava a aprontar alguma e com aquele piscadela e aquele sorriso buscava meu consentimento. Sentou-se a minha frente naquela cabine suja, de estofados cor de vinho que ainda guardavam algum glamour das viagens de trem que se fazia em tempos remotos. Hoje o vagao servio que faz o demorado trecho Belgrado - Sofia nao carrega mais turistas ricos com suas familias barulhentas, nem homens de negocios com suas maletas de couro cheias de traquitanas, codigos, dinheiros e papeis valiosos. Sao apenas moleques viajantes com mochilas grandes e sujas pelas noites maldormidas em estaçoes, moleques que veem do brasil, da Holanda, da Espanha. O vagao acrrega sujeira, descuido, banheiros porcos. Parece que ha muito nao recebe passageiros dignos de sua limpeza. O controlador serve turkish kaveshi (o cafe turco, feito sem filtrar o po) pela modica quantia de 80 dinares servios. Nada mais para espantar a fome ou o sono.

A maior parte dos viajantes é composta por novos homens e mulheres de negocios, que carregam malas feitas em tecido barato, malas quadradas que nao contem mais os documentos, nao contem mais os papeis de outrora. As malas sao muitas e quadradas e carregam mercadoria que se transforma em ouro pelo simples cruzar de uma fronteira.

-Small cigarrete business.

O homem repete a frase, com a mesma piscada e o mesmo sorriso. Sorrio de volta dando o consentimento que ele tanto esperava. Neste momento meu amigo contrabandista transforma-se em um imparavel trabalhador. Bom seria se a companhia ferroviaria servia tivesse funcionarios tao preocupados com os trens como o homem que agora tirava a camiseta, exibindo uma tatuagem de estilo carcerario que dizia "ANA", sacou seus tenis Nike e logo estava pendurado nos braços das poltronas, com duas chaves de fenda na boca. Diante de mim ele desparafusava com maestria o teto da cabine e, em menos de 5 minutos, ele tinha o esconderijo perfeito para mais de 20 pacotes de Viceroy adquiridos em territorio servio. Como um ritual, sentou-se de frente para mim, calçou os tenis, vestiu a camiseta, piscou, sorriu e disse:
-Small cigarrete business.

O trecho entre Belgrado e Sofia possui 329 km de distancia e é percorrido pacientemente pelo trem em 8 horas, que sao passadas de maneiras distintas pelos passageiros. Os mochileiros dormem, olham pela janela, comem porcarias, contam historias e fazem planos para a Bulgaria. Ja os contrabandistas, que aumentavam a cada parada e ja dominavam facilmente o vagao passavam o tempo a negociar, sempre a mudar de cabine, a esconder coisas, a fazer e a receber ligaçoes no celular, numa tensao constante que fica estampada nos rostos de servios e albaneses que ganham a vida transformando 8 euros em 50 euros no final da viagem.

O amigo contrabandista teve um estalo e de repente, levantou-se diante de mim, piscou, sorriu, desta vez nao disse nada e começou mais uma vez o ritaul. Tenis, camiseta, chaves de fenda e rapidamente retitou parte do estoque de minha cabine e sumiu pelo trem. Acredito que ele fez isso umas 10 vezes, sempre seguindo o mesmo ritual, andando pra la e pra ca no trem. Foram tantas as mudancas que eu nao sei se ainda restava algo em minha cabine, o homem era imparavel e se ele conseguiu me confundir, eu que estava no trem desde o inicio, imagina o que ele podia fazer com a policia?

Depois de milhares de paradas em locais improvaveis e inexplicaveis (talvez a explicaçao para como percorrer 329 km em 8 horas), sobem ao trem os passageiros mais esperados pela parte nativa dos passageiros: a policia bulgara, composta pelos policiais "federais", vestidos em calças verdes e camisas brancas descuidadamente deixadas para fora das calças e a policia alfandegaria, vestida de brim azul um pouco mais bem cuidado. A policia federal passa primeiro a pedir passaportes com um olhar bastante parecido com o do amigo contrabandista. Um olhar um pouco desconfiado, de canto de olho, sempre a esperar pela sua reaçao. Tipo "sei bem que voce ta fazendo coisa errada, confessa logo que é mais facil".
-BraZil!!! Ronaldinho!!
-Yeah!!! Bulgaria!! Stoitchkov!!!
-Yes, Stoitchkov!!

Esse era o tipo de conversa que os policias do leste europeu costumavam ter comigo e o policial gordinho, com cara de filme bulgaro (acho que nunca assisti um filme bulgaro, mas com certeza teria um ator com a cara dele) nao decepcionou e lembrou-me de nosso craque de dentes tortos que abre portas assim como Pelé fez um dia. Depois dos passportes, era a vez da pergunta "anything to declare"? Nada alem de roupas sujas, uma maquina fotografica barata, um pacote de biscoitos, um pouco de tabaco e coisas pessoais. Mas eles nao estavam preocupados comigo, passavam pelas cabines com o olhar caracteristico, "eu conheço voces, sei bem o que voces tem, precisamos conver$ar). Passaportes passam para as maos dos policiais recheados de dinheiro num lugar onde 20 euros poder ser a diferença entre o sim e o nao. Os homens de azul olham com desprezo as malas quadradas e todos andam de um lado para o outro a conversar baixinho, uma negociaçao eterna. Nosso amigo parecia ter uma posiçao de liderança e passava por todas as cabines. De frente para mim um outro contrabandista, mais velho e menos ritualistico, arrumava um pacote, um tipo de "Happy Meal" em caso de nece$$idade: um litro de J&B e dois pacotes de Viceroy.

A negociaçao é ininitas, policiais entram e saem das cabines, mexem nos bolsos, fazem perguntas, ameaças. Do lado de fora do trem, os federais conversam sempre em segredo, com olhar grave. Nunca desejei tanto saber falar servio ou bulgaro, entender os termos que eles usavam. Imagina como fica em servio :"ai, mano, sujou pra voce, voce vai rodar com esse monte de cigarro ai, vamo te jogar na cadeia... é talvez temos um outro jeito pra resolver a situçao" .

Ficamos mais de uma hora e meia parados na fronteira. Agora era a vez das policias fazerem o acerto entre elas. Dinheiro vai, dinehiro vem, tudo na cara dura mesmo, nao ha testemunhas, ha contrabandistas, policiais corruptos e viajantes que nao entendem e nao falam um caralho na lingua local, totalmente desacreditados no caso de qualquer denuncia. Um contabandista é levado para longe dos olhares curiosos dos moleques holandeses, que acham tudo exotico, sempre tudo é uma grande experiencia. Brasileiros ficam um pouco mais preocupados quando a policia leva alguem de canto, mas era so para tirar mais um dinheiro de um contrabandista em particular. Sai da janela e sentei em minha cabine, onde o senhor guardava o pacote, desse vez nao precisou de tanto, o dinheiro foi suficiente para sustentar os pobres policiais bulgaros ate a chegada do proximo trem.

Tentei sair do trem para buscar algo para comer na estacao onde estavamos parados, mas recebi a gentil ordem de um dos chefes da quadrilha (de policiais):

-Back in vagon!

Sem problemas, senhor, estou aqui para obedecer. Alegremente, meu amigo contrabandista sai do trem, vai até o café e volta com dois copos de leite achocolatado. Sorri para o policial chefe e sobe no vagao. Era hora de partir. O trem sai lentamente da estacao fronteiriça, o tabaco havia virado ouro, a mercadoria estava a salvo. Contrabandistas seguem com infinitas negociaçoes, agora a moeda que manda é o euro. Meu amigo senta-se, pisca e sorri. Oferece-me um cigarro, nada de Viceroy, ele fuma Dunhill.
-This is my small cigarrete business.

Ouvindo: AC/DC - TNT (tinha um moleque bulgaro no trem, que desceu numa estacao que ficava no meio do nada que nos presenteou com um MP3 player com uma seleçao de roquenrol de responsa e umas caixinhas de som. Depois de umas duas horas de viagem, ele ligou o lance logo com TNT. Nessas horas temos a certeza que existe algum plano superior)

Friday, July 27, 2007

Vida cigana

Lembro-me bem, quer dizer, lembro-me mais ou menos de um certo episodio que marcou a minha infancia: o casamento de Gian&Giovanni. Sei que cada um dos membros da dupla é uma pessoa so, mais assim como o Sandy&Junior é filho do Chitaozinho&Xororò, quem casou naquela época foi o Gian&Giovanni. Digo que me lembro mais ou menos porque me escapa o nome do salao de cabeleireiro que era administrado pela familia da noiva. Foi a primeira vez que eu vi a palavra "coifure" na minha vida e ate ha uns meses atras ainda nao fazia ideia do que se tratava, apena imaginava que fosse uma invencao dos saloes de beleza do interior para atrair mais clientes, ja que o que é desconhecido definitivamente chama atencao. O salao ficava na esquina da "pracinha", onde iniciei-me no futebol, nos jogos de guerra com armas feitas de pau, no "bolibete" (tambem conhecido como taco) e ate onde certa vez fui Caça Fantasmas no dia depois à estreia do filme na Tela Quente. Em cima do salao morava a Camarga, a velha louca que corria atras das criancas e que povoava o imaginario da molecada. Camarga era inimiga mortal de GT, o grande mentor espiritual da turma e de Churrasco, o unico preto da vizinhanca. Acontece que um belo dia, enquanto investiamos nosso tempo observando a Camarga em sua janela (imaginem a Bruxa do 71, era "igual que nem"), um carro importado, coisa rara na epoca, parou em frente ao salao de coifure e parou o tempo e o espaco em nosso mundo da "pracinha". Nao se se foi o Gt, se foi o Churrasco, se foi o Perna, o Bocao, a Marilei ou a Claudia (minha tia mais nova tambem fazia parte da trupe) que chegou com a novidade:
- ... é o carro do Gian&Giovanni, ele vai casar com a filha da dona do salao.
O Gian&Giovanni havia recentemente ganhado o mercado nacional musical e saber que ele estava ali, no salao de coifure, ao lado da pracinha era demais para nos. Deixamos a Camarga à vontade em sua janela e voltamos cada um a sua casa (ou casa da vò, no meu caso) para espalhar a novidade. Longos sao os tempos sem pisar na "pracinha", a ultima vez que eu passei por la ela parecia bem menor e menos encantadora, acho que acontece quando se é crianca de achar que as coisas sao maior que realmente sao. Longos sao os tempos sem pisar naquela cidade, foram 5 mudancas, nao sei se conheco mais alguem que nao seja da minha familia por la. O mundo da muitas voltas e a gente da outras voltas em torno dele. Mas tenho a certeza que um dia volto la, que um dia o Gian&Giovanni vai parar o carro bem perto de mim e sentirei todo aquele poder de novo. Mas a certeza que mais me domina nesse exato momento é que logo volto a ver o que tenho de mais precioso em minha vida. Logo seus olhinhos azuis vao encher-se de alegria e sorrir mais que sua boca e suas lagrimas lavarao toda a tristeza acumulada ao longo desses 22 dias que fico longe. Ai nesse dia, quando eu voltar, poderei cantar bem baixinho no seu ouvido um sucesso do Gian&Giovanni, que é mais ou menos assim, canta comigo:

Vida Cigana*
Oh meu amor não fique triste,
saudade existe pra quem sabe ter,
minha vida cigana me afastou de você,
por algum tempo vou ter que viver
por aqui longe de você,
longe do seu carinho e do seu olhar
que me acompanha, já tem muito tempo,
penso em você a cada momento.
sou água de rio que vai para o mar,
sou nuvem nova que vem pra molhar
essa noiva que é você.
pra mimvocê é linda, a dona do meu coração
que bate tanto quando te ve
é a verdade que me faz viver...

*composicao de Geraldo Spindola

Ouvindo: La femme chocolate - Olivia Ruiz

PS: Todo o post foi uma enrolacao para poder publicar essa musica sem passar tanta vergonha, mas o fato é que eu gosto dela, entre outras musicas sertanejas. Nao gostou, "be water, my friend" .

Tuesday, July 24, 2007

Rapidinhas em Dublin

Sinto saudades. Muitas. Amo-te, mon coeur.

Ando muito, mas muito mesmo. Meus pes doem, mas acho que eh a melhor maneira de conhecer as cidades.

Nas andancas, sempre procuro a refeicao mais barata possivel. Com bastante gordura. Batatas fritas sao bem vindas. Se for kebab, perfeito.

O verdadeiro cafe da manha dos campeoes eh servido na Irlanda: ovo frito, bacon, salsicha, feijao, bolinhos de carne e batatas fritas.

O condimento eh o que alimenta. Sempre coloco bastante na comida. Certo dia coloquei no prato maionese, ketchup, mostarda, brown sauce e molho de hortela. So faltou colocar vinagre para usar todos os saches do local.

Hoje tomarei uma cerveja pela Cerca Frango. Acho que eh a primeira vez que passo uma terca feira sozinho nos ultimos cinco anos.

Outro dia conto mais. Sinto saudades. Amo. Muito.

Ouvindo: Selecao que ta repetindo no iPobre...
Elisa do Brasil - D&B bem quente... a piada eh que a tal da Elisa nao eh brasileira
Kabul Workshop - bom tambem
Ez3kiel - hip hop frances soh pra nao esquecer a nova lingua
Jorge Ben - A Tabua de Esmeralda

Thursday, July 05, 2007

A ironia da vida

Tentei escrever algo que resumisse o que eu penso sobre coisas de meu cotidiano, mas Carlos Drummond de Andrade ja conseguiu condensar a ideia nesse poema, que gosto desde que eu era criança:

Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e
Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Pois é, a vida é assim. As vezes planejamos as coisas e elas nao dao certo. E outras coisas marvilhosas acontecem depois. Sem ressentimentos, sem ironias, deixemos que a vida se encarregue delas.

Ouvindo: Jorge Ben - O namorado da viuva

Wednesday, June 20, 2007

Eu queria tanto...

... te abraçar e no meio de nosso abraço nada mais iria contar, nada mais iria valer. O tempo pararia, os compromissos iriam dar uma voltinha no espaço pra voltarem só depois de um tempo. E quando nossas obrigações voltassem, ficariam constrangidas de nos aborrecer, envergonhadas com o tamanho de nosso sorriso, com o brilho forte de nosso olhar.

Eu queria tanto que a cada beijo trocássemos os nossos maiores segredos, contássemos histórias silenciosas com nossos lábios, com nossas línguas, com as pontas de nossos dedos a percorrer a pele arrepiada de nossas nucas. Queria que fechássemos os olhos e deixássemos que a paixão tomasse conta de nós, que seguíssemos tudo aquilo que ela nos mandasse fazer.

Eu não queria, mas nenhum pouco mesmo, chorar. Não queria que a cada abraço eu respirasse fundo e segurasse a onda, tentasse pensar em algo que tirasse da minha cabeça a vontade que eu tenho de te abraçar, de te apertar, de morar por uns tempos em um mundo só nosso. Não queria ir embora, queria estar mais ao seu lado. Não queria sentir-me demais ao seu lado. Só queria te amar.

Ouvindo: Dire Straits - Tunnel of Love

Friday, May 25, 2007

E só quem é vai sentir...

Você me conhece? Pessoalmente? Além de pessoalmente, ainda podia distinguir o caráter? E o compotamento? Isso te dá alguns pontos de vantagem ao ler este texto. Conheces-me só de leitura? Acho que ainda estás habilitado a chegar até o final...
Hoje foi um dia mau. Acordei mal, tive um sonho ruim. Não diria que foi um pesadelo, pois não haviam figuras bizarras nem mesmo obscuras, quanto mais assustadoras. Foi só um mau sonho, daqueles que aparecem pessoas que não são benvindas (bem-vindas, bienvenidas, welcome ou qualquer outro jeito de escrever isso). E essas pessoas dizem coisas indesejadas. E o cenário é também indesejado. Dá-me um pouco de medo, mas logo penso, qual a diferença entre isso e um pesadelo? Esquece. O que eu queria contar mesmo é o que aconteceu depois disso. Por isso que eu queria saber logo no começo quem me conhece ou quem só sabe de quem se trata. Acontece que hoje eu acordei com a cueca torta. Sonhei coisa ruim, acordei derrubando as coisas, levei um sabão da mulher que estava dormindo ao meu lado. Sempre achei uma merda quando o meu irmão mais novo acordava desse jeito. Ficava de um jeito tão chato que lembra-me uma expressão da minha mãe: "um cu pra conferir". Hoje me peguei desse jeito. Conto os dias da minha vida em que estive tão cuzão, mas peço que entendam, isso acontece de vez em quando. Fico sério algumas vezes na minha vida.

*Ouvindo: Racionais MC´s - Vida Loka II - trechinho da letra: Eu digo glória, glória, sei que deus tá aqui, e só quem é, só quem é vai sentir, e meus guerreiro de fé, quero ouvir, quero ouvir... E meus guerreiro de fé, quero ouvir, irmão... programado pra morrê nóis é, certo é certo, é crê no que der...

Thursday, May 10, 2007

Roberto Carlos, o Rei

Eu queria escrever sobre muitas coisas, histórias bonitas e divertidas sobre o que anda acontecendo em minha vida. Mas tá difícil, as idéias aparecem e somem da minha cabeça antes que eu possa fixar qualquer coisa que possa virar um texto. Queria principalmente falar nesse momento sobre o tráfico de informação, de como uma notícia voa de Braga para o mundo em alguns minutos. Mas deixo o tráfico pra quem é do crime e publico um texto escrito em parceria com meu amigo Thomaz. Foi uma matéria feita pra um jornal laboratório da universidade, entramos no show do Roberto Carlos no Pacaembu, com credencial de imprensa, livre acesso ao estádio e, para completar, uma faixa azul com o nome do Rei escrito em prata. Hoje não sei como seria minha (nossa) abordagem do show, mas fiquem com a versão publicada...

Hey, hey, hey, Robertão é o nosso rei!l

- “Nossa, já estou até sem voz!”

Imediatamente olho pra trás, preocupado com a moça de quase trinta anos que acaba de falar com a amiga. Não que fosse uma frase anormal num show no estádio do Pacaembu, mas não se espera isso ainda no meio da primeira música.

Tudo bem, penso, a expectativa é realmente enorme: muitos que estão aqui, em pé ao meu lado na arquibancada, nunca chegaram tão perto de Sua Majestade. É que o Rei e cantor Roberto Carlos não costuma fazer shows a preços populares, o que torna essa data especial para muitos fãs - a “primeira vez” com o ídolo. E olha que nem era tão perto assim: para quem pagou os 10 reais do ingresso promocional, não ficou a menos de 100 metros de distância do palco.

Roberto Carlos parece conhecer bem o seu reino. Sabe porque aquelas mulheres estão ali e por isso não perde tempo na introdução do show.

- É um prazer enorme... – o Rei dá uma pausa, esperando o grito generalizado vindo das arquibancadas diminuir – rever vocês. Eu queria falar tanto antes de começar o show, mas eu prefiro falar cantando...

A seqüência de sucessos do Rei foi satisfazendo pouco a pouco cada uma daquelas 35 mil pessoas que presenciavam o espetáculo. Desde as tradicionais canções românticas até a época da jovem guarda, seus clássicos eram comemorados pelo coro das arquibancadas. Algumas poucas inovações garantiram aos espectadores que este não era apenas “só mais um show”. Ainda nas primeiras notas de “O Calhambeque” (bi-bi!) surgia no palco um Cadillac vermelho inflável, contracenando com o dono da festa.

Quando o Rei começa a chacoalhar as cordas de um violãozinho, numa versão mais bossanova de “Detalhes”, o público se extasia, e não deixa de agradecê-lo em alto e bom som. No alto da arquibancada, uma mulher conversa com seu ídolo quando ele canta o verso “se um outro cabeludo aparecer na sua rua...”. Como se o Rei pudesse ouvir seu chamado, ela grita:

-Não, Roberto. Não vai aparecer mais nenhum. É só você!

Outra fã, com cerca de 50 anos, vibra com as músicas de Roberto Carlos. Levanta as mãos para o alto, como que agradecendo a oportunidade que há tanto tempo esperava. Depois de cantar três músicas consecutivas, sua respiração procura em vão voltar ao normal, pois logo começa uma outra canção, desta vez mais lenta:

- Ai, que bom, pra dar uma acalmada...

Doce ilusão: era “Emoções”, um dos maiores clássicos do cantor.

- Ai meu Deus, eu estava com essa música na cabeça!

E eis que recomeça o culto: ela dança, pula e canta, elétrica, sempre com as mãos para cima...
Ao contrário dos Estados Modernos, nosso Rei é cultuado muito além das fronteiras nacionais. Roberto Carlos é o único artista latino-americano a vender mais discos do que os Beatles, com mais de 70 milhões de cópias em todo o mundo. Ele já cantou ao lado do tenor Luciano Pavarotti em Porto Alegre e tem em sua lista de fãs astros como Julio Iglesias e Frank Sinatra. Segundo uma reportagem do New York Times, “o que Pelé é para o futebol, Roberto Carlos é para a musica brasileira”.

Já na saída do estádio, subindo a ladeira que dá acesso ao metrô, um grupo de senhoras segue proseando sobre as maravilhas do show. Nem mesmo a distância do palco impediu-as de aproveitar os minutos com o Rei. “O importante é que emoções eu vivi”, parece ser a conclusão.

Mas para quem gosta de mais “Detalhes”, os súditos de Roberto Carlos prepararam “uma oportunidade única de lazer para um grupo seleto”, segundo a definição do projeto Pra Sempre em alto mar. Um cruzeiro de quatro dias pelas praias do sudeste do Brasil, a bordo de um suntuoso transatlântico de 14 andares, com direito a um show mais intimista de Sua Alteza. Para entrar nesta corte, basta ter a nobreza – pode ser à vista ou em três vezes – equivalente a 950 dólares por passageiro.

Ouvindo: MV Bill - Traficando Informação

Friday, May 04, 2007

Aveiro II - A Missão

Daqui a pouco saio de viagem de volta a Aveiro, agradável cidadezinha litorânea do centro norte de Portugal. Há pouco mais de um mês estive no mesmo local, gostei e, por isso, volto. Muita coisa mudou desde então, as companias são diferentes, as circunstâncias são diferentes. Troco o camping por hospedagem em casa amiga. As coisas estão tão malucas e a passar tão depressa que acho que isso refletiu no Brasil. Acabei de saber que meu irmão mais novo, que já nem é tão novo assim, recebeu um telefonema em casa de "um de seus outros dois irmãos", direto de um "cativeiro" em São José dos Campos. Esse golpe do falso sequestro está cada vez mais comum em meu país, o que me faz triste e desanimado com a volta. Agradeço a alguém especial por fazer bandidos tão burros que chutam um nome qualquer e que voltam a ligar para o mesmo lugar com uma história diferente... Quer ser bandido do crime, tem que meter a mão no cano, por a cara, tomar a grana na cara dura, olho no olho. Sem essa de "bandeide do creme", que pega no telefone e acha que vai rodar a banca com golpinho barato.

Ouvindo: Dessa vez vai ter que rolar uma lista das músicas que estão a tocar na minha cabeça o dia todo, cada uma faz muito sentido e a resposta pode estar em qualquer lugar, seja no refrão, seja em uma pequena frase, seja na idéia da canção...
The Offspring - Jennifer Lost the War
AC/DC - Little Lover e Can I Sit Next tou You Girl
Ultraje a Rigor - Independente Futebol Clube
Spin Doctors - Jimmy Olsen´s Blues
Deep Purple - Speed King
Racionais MC´s - Estilo Cachorro
Ratos de Porão - Só Pensa em Matar (essa é pros tais "sequestradores")

Thursday, April 19, 2007

Descobri...

Por que o comunismo não deu certo. Muitos anos e pensadores desperdiçados a tentar descobrir uma das maiores perguntas da humanidade no final do século XX e a resposta era tão óbvia: o comunismo não deu certo porque eles não sabiam fazer festas. Explico: na segunda-feira encontrei um colega a colar cartazaes pela cidade, tudo na mais típica subversão. Vestia camiseta da Juventude Comunista Portuguesa e carregava um balde cheio de cola para pregar os cartzaes lambe-lambe. "Comemorações do dia 25 de abril - bláblábla, bláblábla, bláblábla - Música de Intervenção". O anúncio era tentador para uma cidade interiorana onde pouco se passa, onde em meu juízo não há ao menos espaço para loucuras como o comunismo. Decidi ir ao encontro, para saber como são os comunistas de cá, se vestem roupas velhas e usam barbas e boinas um bocado ultrapassadas. Vesti a única camiseta com tons vermelhos que tenho, a do SPFC, e parti junto com dois amigos, um com a camisa do PC do Bola, time de futebol do Partido Comunista Brasileiro e outro cabeludo, de cara espetada com piercings e alargadores que matariam qualquer avozinha do coração. Pois bem, chegando ao lugar da festa foi quando tive a luz em minha cabeça, fiz a grande descoberta. Era uma noite normal em um bar qualquer, o público era formado por, no máximo, 10% de comunistas e a porcentagem só foi tão grande por eu e mais outros estarem contidos sem querer nas contagens vermelhas. A comanda de consumo dava uma esperança, mas um tanto longínqua: 5ªa bebida grátis. Seria este o maior ponto que o comunismo iria alcançar naquela noite? A decoração do bar não chegava e ser duvidosa, era claramente de mal gosto, feita às pressas com uma faixa de plástico vermelho, alguns balões e poesias nas paredes. Logo descobri que a tal "música de intervenção" não passava de um chamariz para otários como eu. Festa de gente esquisita é sempre assim, colocam uns nomes complicados em coisas simples para dar mais crédito. Se vai haver um palhaço, dizem que "um ator vai dar um espetáculo de clown". Se há alguém a fezer estipolias, dizem logo que vai "haver uma performance". Música de intervenção é o caralho, o que logo vi por lá é que, tirando uma ou outra marcha vermelha, a música era a mesma merda que encontras nos CD´s "As Melhores da Pan" ou "Sucessos da Antena 1". O colador de cartazes, todo subversivo no dia anterior, aparece na festa com uma camiseta da Nike de dizeres totalmente opostos aos ideais de alguém que suja a cidade em nome do bem comum. Questionado sobre as bandas que desenpenhariam a "música de intervenção", respondeu "pelo que eu saiba, vai haver". Ninguém sabia de nada, todos estavam ali envolvidos por uma idéia que na prática era só um nome. Comunismo. Não havia garotas bonitas, não havia bebida farta, nem músicas boas, nem bandas, nem conversas, nem coisa nenhuma que atraísse mais alguém praqueles lados. Eles definitivamente não sabem fazer festas. Hoje entendo todo o leste europeu, os chineses e todo mundo que viveu sob o domínio do comunismo, se não souber fazer festa, a população, mais dia, menos dia, se aborrece e procura uma outra maneira de viver. Para mim estava fácil, era só caminhar até a casa. Antes do final o amigo cabeludo e da cara espetada olha fixamente para duas garotas que tentam disfarçar o desânimo com uma tímida dança:

- Eu ainda vou pegar as duas juntas!

Se isso acontecesse, seria o auge que o comunismo atingiria naquela noite. E olha que nem era tanta coisa assim.

Ouvindo: AC/DC - Hard as a rock

Monday, April 02, 2007

Viagem

Fui pra Aveiro, acampar na praia. Orçamento: 30 euros. Volto na quinta-feira. Até lá, serei um mendigo. Wish me luck!
Fui!

Ouvindo: Lovage - Music to make sex tou your old lady (esse é o nome do disco mais recomendado de todos os tempos)

Wednesday, March 28, 2007

Um pedido para daqui a três dias

Era preciso fazer um pedido, por escrito, detalhado, carimbado e com todas as outras burocracias pensáveis. No pedido deveria constar, em não mais de uma linha escrita com letra de imprensa, um único pedido ao sair da cadeia. Faltavam três dias apenas, mas parecia que o dia nunca chegaria. Pegou no papel, dobrou, amassou, tentou escrever qualquer coisa. Comeu a mesma comida insossa que engolia há 4 anos naquela mesma cela que dividia com malucos que se chamavam desde José, João e Felipe até Fedô, Casquinha e Relaxo. Três dias, como é possível que três pequenos dias demorassem mais que quatro malditos anos trancados naquele cubículo?

A cada hora pegava novamente no maldito papel e imaginava o que escreveria para encher aquela decisiva linha. Imaginava a felicidade que o esperava dali a pouco, mas a indecisão comia-o por dentro. Será que um carro? Dinheiro? Dez prostitutas? Pó a perder de vista? Um oitão pra voltar logo pro crime? Meia hora para os guardas voltarem com o papel para a direção. Sem papel preenchido, sem rua no sábado. Aliás, sábado era o dia perfeito para ser feliz mais uma vez, respirar um arzinho mais puro, rir sem medo de qualquer coisa. Sem mais pensar, preencheu o papel com letra firme e decidida, segundos antes do guarda chegar.

- Cariño? Que merda é essa?
- É meu pedido, caralho. Pode ser isso?
- Sei não, tem que ver com o Diretor.

Faltam só quase dois dias e ele anda de um lado para o outro em sua cela, a esperar a resposta do Senhor Diretor.

Ouvindo: Lovage - Sex (I'm A)

Tuesday, March 13, 2007

Como seria esse blog, se eu fosse...

...uma patricinha que fala "miguxo"
Não, meu, preciso contar, fui parar na delegacia, meu. Tá certo que foi com o mega fofo do ... , mas passei o maior carão lá. É que a gente tava na casa da vizinha, que mudou do prédio há duas semanas. E a gente achou que era, tipo, sussa de ficar lá na boa. Aí a coisa foi indo, né... A gente foi passando de cômodo em cômodo, mas quando chegou na cozinha...

...um escritor de contos eróticos
... o chão frio aumentava a frequência de arrepios que ... sentia. Sentada sobre seu peito oferecia a vagina úmida e cheirosa, fazendo um vai vém provocante com os quadris. Finalmente ela cede e oferece o prêmio a ... , que afoga-se em prazer. Saciado, toma o controle da situação e sai de baixo da mulher, que pega agora de bruços. Ela, com olhar manhoso, logo levanta as ancas e pede: "Me come de quatro e me puxa o cabelo?". O melhor pedido do mundo, se não fosse o barulho da porta da sala...

... um colunista policial de cidade do interior
Casal apanhado com a mão na massa pela vizinha. O casal ... , 24 e MM, 22, foram presos em flagrante por atentado ao pudor na tarde de ontem pelos policiais do 12º BPM. Os dois foram surpreendidos pela vizinha, que vinha acompanhada pela polícia. Os homens do sargento Tavares foram chamados para averiguar os barulhos que vinham do seu apartamento. Ao chegar ao prédio para retirar seus últimos pertences, Dona Antônia notou uma movimentação em seu imóvel e pediu ajuda policial. O casal seguiu envergonhado para a 3º DP da cidade onde foram interrogados pelo delegado Quintana. Os pombinhos seguiram livres para amar após o pagamento de fiança e respondem ao processo em liberdade.

... um maloqueiro
Mó treta, mano, fui parar na mão dos homem por quase nada, mano. Se fosse no rolê, fazendo umas treta, já era, tava de boa. Mas eu tava lá com minha mina na moral, dando um trato nela. Era só dominá a casa da tia lá do lado, mano, a véia tinha mudado do prédio fazia mó era já. Levei a mina pra dentro da casa, mano, ela ficou louca mesmo, tá ligado, mano? E o baguio é louco comigo, cê sabe, eu já fui indo em cada cômodo do apê prá comê ela, manja? A mina era tão cabulosa que ela perguntou se eu queria fazer uns baguio mó doido com ela, comer de quatro e tal... Foi daí que colou os homem, alguém caguetô a gente, eu tô ligado. Se eu acho que foi o cururu que me dedou, tá fodido, mano. Sorte que chegamos na delegacia e o doutor aliviou a dura. Ir pra cadeia numa dessa dá moral não, mano, ter que ser pego no crime.

... roteirista da novela das oito
O casal sai da delegacia e chama um táxi. O carro pára, ele sorri para ela e a abraça pela cintura. Ela levanta a perna esquerda. O motorista espera, os dois olham-se nos olhos.
- Adorei, sabia?
- Com você qualquer coisa fica bom, ...!
- E como vai ser daqui pra frente?
- Sei lá, acho que não vamos ser presos, aquilo era só amor, não se pode prender o amor.
- Não falo sobre a cadeia, falo sobre nós dois ...
Os lábios dela tremem, seu olhar passa para o chão e vêm o choro.
- Preciso ir, ...
- Fica, a gente pode ser feliz aqui.
- Sabe que eu não posso.
- Só um pouquinho, fica mais um poquinho.
O motorista de táxi pede uma resposta. Ela entra no carro, ele olha-a nos olhos.
- Vai embora - ela pede.
Ele vira-se e anda rua abaixo, sem olhar para trás. Fim do capítulo.

...eu
Não consigo mais esquecer daquele dia em que ela me deixou no Porto. Talvez alguns detalhes eu tenha misturado, contado em outras histórias ou sonhado em outras noites. Será que foi de táxi mesmo que ela foi embora? E aquele sexo escondido na casa da vizinha, seria em outras épocas, ou sonhos eróticos motivados por filmes vagabundos? Não sei, só consigo lembrar daquele último dia, o rio, as coisas em volta, as poucas pessoas na rua. E se eu seguisse aquele comboio que te levava pra longe de mim e ficasse perto de ti? Escondidinho, podia ser embaixo da cama mesmo. Juro que como pouco e não choro de noite.

Ouvindo: Ramones - Loco Live (o disco todo)

Das mais curtas pras mais longas....

Eu fui ver Taxi Driver pela primeira vez na vida hoje. Conhecia o filme "de vista", algumas falas e o resumo da história, um taxista que surta e resolve matar um ou outro cara. E é exatamente disso que o filme fala, não há melhor resumo, acho que o legal tá na simplicidade do enredo mesmo. Mas os diálogos e fluxos de pensamento de Travis dão o caráter fodão do filme. Vim, vi e gostei.

Nesse fim de semana contornei um de meus maiores medos culinários, comer sangue de animais. O prato é o "pica no chão", o que parece uma grande piada, mas é apenas o nome do frango caipira. Afinal de contas, o animal pica no chão em busca da comida. E o bicho vem acompanhado de arroz cozido em seu sangue. Confesso que não possui um bom aspecto, mas valeu a pena esquecer um pouco que aquilo era sangue e aproveitar o espetáculo de prato.

Li "O Abusado", de Caco Barcelos e agora leio "Falcão", de Celso Athaide e MV Bill. Os dois falam sobre o tráfico de drogas, o primeiro com enfoque em Marcinho VP e o Comando Vermelho e o outro mais sobre os soldados do morro. Encontrei uma intertextualidade muito louca nos dois livros, já que Caco Barcelos fala sobre Rogério Lengrueber, o Bagulhão, um dos fundadores do Comando Vermelho no presídio de Ilha Grande. Lendo Falcão, Celso Athaide dá um depoimento sobre sua própria infância, quando vendia doces nas ruas e lembra seu melhor cliente, Seu Rogério. Mesmo com diabetes, comprava o doce do moleque e ainda trazia freguesia. Seu Rogério, também conhecido como Bagulhão, foi vítima da diabetes em Bangu I e hoje suas iniciais fazem parte da sigla de toda a conversa e correspondência de sua facção criminosa: CV RL, mesmo que a maioria da nova geração do crime não saiba distinguir o significado das duas últimas letras.

Por último, rolou um churrasco de forno no apê de uns amigos dessas áreas. A churrasqueira elétrica (nessas horas eu sinto tanta falta de casa) tava estragada e as linguiças foram parar no forno. Sentados na mesa, pareciam todos dispostos como no mapa mundi. Em uma ponta, duas representantes da Turquia. O meio da mesa era dominado pelos polacos, duas garotas e um cara. O canto oposto era dominado por quatro brasileiros, que faziam fronteira com a Espanha ao norte, representada por um só. Concluí que somos todos iguais, podemos ir muito longe de casa, mas sempre encontraremos aqueles perfis parecidos com os quais convivemos aqui. Temos gostos parecidos, fazemos as mesmas perguntas e partilhamos os mesmo silêncios, uns com o cotovelo na mesa segurando o queixo, outros olhando para o alto, outros namorando o chão. Acho que deve existir um número finito de tipos de pessoas e elas se repetem pelo mundo com alguns detalhes e particularidades pequenas que não denunciem as cópias. Mas é justamente nessas singularidades que reside toda a graça de conhecer alguém.

Ouvindo: Guns & Roses - So Fine

Sunday, March 04, 2007

O homem de moleton preto e calças caídas

O homem corre pelas ruas já não tão frias e sente um sorriso brotando em sua cara mal barbeada devido ao vento que não mais lhe corta o rosto. Veste calças largas, que caem conforme acelera o passo. Fazer o quê se não gosta de cintos? Nem cintos nem relógios, era o que dizia desde mais moço. Veste um moleton preto com duas faixas brancas nas mangas, presente dos pais e que rendem a fama de Holligan por esses lados. Corre em direção ao Mc Donalds, procurando nos rostos e nos carros alguma visão familiar, buscando a cara do amigo que fora recém roubado. Logo encontra o dito, arruma as calças e checa sua proteção. Roubar um casaco é coisa que não se faz. Roubar, quando não se precisa do roubado, é coisa de grande filho da puta. Alisava a coronha de sua Taurus PT 58, presente de amigo e quase que um animal de estimação. Os ladrões de merda foram avistados e flagrados a guardar a porra do casaco no porta malas do carro. Dois moleques, ambos bem vestidos, dirigindo carro próprio e roubando as coisas alheias. Se tinha uma coisa no mundo que lhe fodia a cabeça era preibói forgado pagando de malucão. Gentilmente, afasta seu amigo do caminho com a mão no peito, logo interrompe os filhos da puta: "Boa noite, tô a passar um bocado de frio, será que não teriam um casaco por aí, não?" Com a negativa dos moleques, deixou a educação de lado, mas a calma nunca o abandonou. Colocou a mão nas costas mais uma vez e alisou seu bichinho. "Tens a certeza, seu caralho?" Mais uma negativa. Conhecia só uma lei nessa vida, a Lei do Cão. Não conhecia Deus, mas sabia que o Capeta existia e ficava feliz com as oportunidades de mandar mais um ou outro pras mão do Caramunhão. Sacou o revólver delicadamente, como se cuidasse de um pássaro doente ou tivesse um bebê prematuro nas mãos. Sempre nessa hora quem tá errado muda de atitude. Um filho da puta que era malandro há dois minutos parece um bebê. Tem o olhar assustado, olha pra todos os lados, talvez penando pra onde correr ou pra quem pedir ajuda. De nada mais adiantava qualquer coisa, estava agora nas mãos do homem de moleton preto e calças caídas. Mirou o capô do Polo preto e deu dois tiros. Era um vício que tinha desde moleque, nunca atirava um filho único, sempre mandava um par de tiros gêmeos. Um para encomendar a alma. O outro era uma oferenda ao Satanás. "Sabes fazer contas, pois não, puto? São 20 balas. Sobram 18?" A primeira resposta afirmativa do puto. Parecia que começavam a se entender. "São dois pra você, dois pro seu amigo. Ainda sobra algumas pra quando você vier me cobrar". Faz mira no peito do ladrãozinho, não gosta de apagar um cara de repente. Dá-lhe gozo atirar primeiro no peito, ao lado direito e depois manda o próximo balaço na barriga. Tem que ser rápido pra não dar tempo do cara se dobrar antes de levar nas tripas, mas a visão de um filho da puta sangrando pela boca é das melhores coisas da vida. Nessa hora vê-se nos olhos do corno o gosto que tinha pela vida, o arrependimento por qualquer cagada, alguns até chamam o pai e a mãe. Gosta de ver seu inimigo agonizar enquanto for possível e no íntimo torce pra que não morra e apareça um dia para cobrar as balas enfiadas em seu corpo. "Abre a porra do porta malas, seu moleque". O menino treme e nota-se que além de bambas, suas pernas estão todas mijadas. Soluça, mas não lhe correm lágrimas dos olhos. Pega na chave e dirige-se lentamente para trás do carro. Abre o porta malas. Nada além de alguns papéis velhos e sacos de supermercado vazios. Um engano. O puto não tinha nada a ver com a merda toda. "Desculpa lá, não tens mesmo um casaco pra me arranjar. Vamos pra outro sítio ver se achamos alguma coisa". O homem coloca o capuz de seu moleton preto e guarda carinhosamente sua PT atrás das costas. Dá um tapinha no ombro do amigo, convidando-o a irem embora. Caminham lentamente, sem olhar para trás. O vento gelado, que parecia ter ido embora, pelo menos até o próximo inverno, volta a soprar. O homem de moleton preto ajeita suas calças. Acredita fielmente que aquele vento gelado é o Capeta reclamando as almas que ficaram à beira de seu caldeirão.

Ouvindo: Ratos de Porão - Só pensa em matar

Tuesday, February 27, 2007

Portuga cabrón, saluda el campeón

É isso mesmo, a Equipe Cerca Frango foi campeã do Rally das Tascas 2007. Dois garotos e duas garotas, sendo que uma delas não bebia e a outra bebia por meia pessoa. Não digo que foi fácil, mas largamos em 5º lugar e cruzamos a linha de chagada (diga-se o último bar e o último copo) em 1º, com mais de 15 minutos de vantagem frente ao 2º colocado. Seguem algumas impressões:

A concentração: É nessa hora que você começa a imaginar a performance de seus adversários. Os que já estão bebendo antes da largada já não botam medo, fazem apenas pra impressionar e dar a idéia de serem verdadeiros borrachões. Temia apenas um cara forte, gordo, corado e que, pra felicidade de nossa equipe, participava apenas da organização.

O preço de um bom navegador: Nos últimos momentos antes das inscrições faltava-nos um membro para o time, que tem que ser composto obrigatoriamente por 4 pessoas. Chamamos a Ana Filipa, mas tinha um problema: a menina não bebe. Como não estávamos lá para competir, aceitamos e depois vimos o valor de um navegador sóbrio e bom conhecedor da cidade. Mas como o valor é alto, tivemos que pagá-lo bebendo toda a parte destinada a ela.

Meu fígado não é total flex: Achava que conseguia beber qualquer coisa sem passar mal, sem cair ou sem dar papelão. Ledo engano, já que meu organismo rejeita fortemente a bagaceira, aguardente feita de uva que foi servida já na reta final da competição. Saí do bar sabendo o que ia acontecer: duas gorfadas na calçada, só pra expulsar a maldita bebida.

E foi assim. Chegamos ao Speedy, o último dos bares para tomar calmamente um copo de receita (bebida feita com vinho, cerveja e refrigerante de limão) e esperar pela cara dos segundo colocados. Passamos por 14 bares, nos quais tomamos cerveja, vinho, shots de vodka, jeropiga e a puta da bagaceira. Parabéns para a equipe. A idéia de importar a brincadeira para o Brasil não me sai da cabeça. Só acho que precisamos de competidores mais preparados e eliminar a bagaceira do menu. Alguém enfrenta?

Ouvindo: Renato Fechine - Bebe Negão

Monday, February 26, 2007

Rally das Tascas

Querido diário,

Escrevo esse que pode ser meu último post contando a alegria de ter sido escolhido para participar da equipe Cerca Frango para concorrer no Rally das Tascas. Seria algo como Rally dos Botecos, uma maratoMa realizada anualmente pela Associação Acadêmica aqui em Braga. Apesar de ter um fígado 4X4, temo que a falta de um navegador venha a prejudicar meu desempenho e colocar em risco o meu retorno à vida social. Pelas informações que recebemos, teremos que passar por mais ou menos 20 tascas, em cada qual precisaremos cumprir algumas tarefas como beber um fino (chopp, pros menos íntimos) ou algum shot de bebidas fortes. Adoro cerveja e também não tenho medo de tomar o "quente", mas entro na competição só pela diversão, já que com álcool não se brinca. Quer dizer, brinca-se, mas não a sério.

Bem, fico por aqui, pois já tá na hora de começar. Torçam por mim. Se eu não voltar, saibam que sempre adorei os leitores daqui. E se minha mãe perguntar alguma coisa, digam que eu fui pra aula e só volto mais tarde.

Ouvindo: Bloco do Litrão - Ai meu fígado

Thursday, February 15, 2007

É Carnaval...

Um Pierrot apaixonado, que vivia só cantando, entra no salão mal iluminado, de decoração duvidosa que mistura palmeiras, tucanos e Momos de bochechas rosadas. Logo avista amigos de outros carnavais: Zezé e sua distinta cabeleira dançava sozinho como de costume, com seu olhar bêbado também de costume. Pierrot já não se questionava mais se ele é ou não é, mas cortar o cabelo dele não seria nada mal... Do outro lado do salão ele avista o Vovô, que com a poupança acumulada pela falta de sustentação de sua pipa, era o alvo perfeito para acabar com a dureza de nosso Pierrot:

- Ei você aí, me dá um dinheiro aí!
- Olha, não é que chegou o mais ilustre membro da turma do funil!
- Pois é, Vovô... Eu nunca durmo no ponto...
- E eles que ficam tontos, né? Toma lá, leva cinquentão, você acha que dá?

Se dava ou não dava era coisa pra se ver mais tarde, mas que era um bom começo, isso sim. Tempos difíceis de falência aqueles que passava em Aguinhas, cidade maravilhosa e cheia de encantos mil, que abrigara mais de centenas de carnavais antes da mudança para terras distantes. Mas que calor. Não era nenhum deserto do Saara, mas Pierrot precisou por várias vezes parar, parar para encher a cara, tentando aliviar o suor em bicas que insistia em tentar roubar sua maquiagem. Numa dessas o dinheiro ia embora junto com as caipirinhas que tomava e os outros drinques que oferecia a cada mulher que encostava ao balcão, pensando que cada uma se tratava de uma Colombina em especial. Na terceira, vestida de Mulher Maravilha, deu asas ao papinho cinco estrelas:

-Sabe, recordar é viver... Eu ontem sonhei com você!
- Recordar? Se liga, nem te conheço ...

Nunca tinha sido bom de xaveco e sempre que tentava lançava uma frase desse tipo, que logo o tirava da corrida.

- Pois é, mas seria bom... Quem sabe sabe, conhece bem, meu amor, como é gostoso gostar de alguém...
- Eu, hein. Acho que você já tá é bêbado demais, não acha?
- Querida, eu bebo sem compromisso, com meu dinheiro e ninguém tem nada com isso...

Mais uma de suas investidas tinha ido embora, assim como metade da maquiagem e dois terços da grana do Vovô. Quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão. Tá certo que não eram mais de mil, mas que havia pelo menos uns quinze palhaços, havia. Porém um deles chamava a atenção de nosso Pierrot, um Arlequim, que apoiado no outro extremo do balcão, chorava copiosamente no meio da multidão. Bailando ao som de intermináveis marchinhas, Pierrot logo alcança seu novo amigo:

- Que passa, meu amigo? Chorando uma hora dessas?
- É por causa dela...

Era ele, famoso violeiro do tempo de serenatas em bairros distantes. Por pouco não viraram verdadeiros amigos, tudo ficou só na lembrança e a distância impediu que qualquer coisa a não ser o respeito crescesse entre os dois. Soluçava e mal conseguia apontar para o outro lado do salão onde a mais bela do baile dançava rodeada por todos os outros palhaços, que cada um a sua vez tenatava em vão roubar o coração da moça. E era ela, a mulher que Pierrot tanto procurava, aquela que tinha mandado embora de sua vida há exatos 6 meses. Linda, morena, com covinhas nas bochechas e de um bailado que não podia confundir e, o pior, não podia esquecer. Eram dois palhaços chorando pelo amor da mesma mulher.

- Pára de chorar, meu amigo. Isso não te leva a lugar nenhum.
- Pois é, que atire a primeira pedra quem nunca sofreu por amor...

Vem chegando a madrugada, o sereno vem caindo. As músicas vão se repetindo, os bêbados caindo ainda mais rápido que o sereno. As luzes vão aumentando, a decoração vai se soltando das paredes, seu tempo está acabando. Deixa de lado o amigo, que de uma hora para outra tinha se transformado em seu algoz adversário. Pierrot agora caminha decididamente para o outro lado do salão, junto aos palhaços. É terça-feira, amanhã tudo volta ao normal, nada de fantasia bonita, só a carapuça que vestia a cada dia de cão que vivia nas ruas de Aguinhas. Era agora ou nunca mais, chegou chegando:

- Ei morena, deixa eu gostar de você!
- Você por aqui?
- Pois é, voltei. Tenho saudades, sabe?

Seu olhar tentava esconder a pontinha de alegria ao ver Pierrot, mas suas palavras censuravam seus olhos castanhos. Lacônica e irônica, como sempre ficava ao ser desagradada.

- Ah é? Que bom...
- E você, como tá?

Pierrot sempre fora mal nas tentativas de fazer fluir uma conversa sedutora. Preferia deixar essa parte a cargo do olhar, mas os olhos de sua Colombina eram fugidios como nunca antes tinham sido. Tentava falar mais de perto, colado ao ouvido dela, mas sutilmente tirava a cabeça ao ritmo das marchinhas.

- Tô bem, e você?
- Eu vô indo, sabe. É que...

Chega o violeiro, conhecido hoje como o Arlequim e, sem que Pierrot se apercebesse e pudesse se previnir, pega a Colombina pela mão a a carrega pelo salão. Não chora mais, apenas troca um sorriso luminoso de tão branco com sua amada. Ah, coração leviano, não sabes o que fez do meu. Logo ali, Vovô confirma as expectativas acerca de Zezé e acaricia sua cabeleira loira em um canto escuro. Já que a pipa não sobe mais, é hora de arrumar outros jeitos de ser feliz. Até que formam um casalzinho legal. Mais uma caipirinha, só pra embalar a caminhada e Pierrot deixa o salão. Amanhã é quarta-feira de cinzas. Depois do meio dia não existe mais Pierrot, não existe mais Colombina, tudo será mais claro e silencioso. Pierrot deixa o baile, cantando alto dentro de sua cabeça... "Tristeza, por favor vá embora, minha alma se chora, está vendo meu fim".

Ouvindo: Banda Grande Rio - Coletânea de Marchinhas

PS: Principalmente para o pessoal de Portugal, explico que esse texto foi inspirado e contém trechos de diversas marchinhas carnavalescas brasileiras. Essa é uma forma de me sentir mais perto do Carnaval brasileiro, que foi a primeira coisa que me fez sentir saudades verdadeiras de meu país.

Sunday, February 11, 2007

Bon jour!

Agora sempre que encontro alguém eu desejo bom dia. Pode ser política de boa vizinhança, quando aqui no prédio. Mas pode ser que seja apenas qualquer coisa que eu queira desejar, que comece o dia bem, simplesmente. Pra essas coisas um boa tarde ou boa noite não resolvem tão bem. Mas o que eu sinto falta, daquela falta que te deixa se sentindo o sujeitinho mais nhãpã do mundo é do seu bom dia. De acordar com seus cabelos finos enrolados em minha barba. É de acordar com seus olhos sonolentos me dizendo um bom dia meio mal humorado. Sinto falta muita de adormecer sentindo seu cheiro, a contar estrelinhas, a coçar o nariz com as cócegas do seu cabelo. Durmo e tento ir longe, chegar um pouco mais perto de um pouco de você que se possa alcançar. E quando alcanço, te pego pra mim e seguro forte, que é pra não errar mais uma vez. Rolo na cama e penso em seu travesseiro, nas caras e rostos que você ali encontrava. Queria colar meu cheiro ali pra sempre, ninguém tira, ninguém põe. E é por isso que eu sempre desejo bom dia. Esperando o seu sorriso, o seu cabelo enroscado em mim. Um dia chega esse bom dia. E todos serão melhores dali então...

Ouvindo: Mutantes - Quem tem medo de brincar (cantado pela sua irmã)

Sunday, February 04, 2007

Fechou o tempo, fechou a mão

Colaram meu amigo ontem. Saíram na mão com ele. Andou à porrada. Brigou. Tretou. Apanhou, bateu. Voltou com umas marcas no pescoço e na cara. Mas a cara de susto era o que mais me incomodava. Odeio briga. Desde a quarta série do primário que eu não mexo com isso. Agradeço pelo meu tamanho e pela cara de não mexe comigo que eu tenho. Mas depois que não tem volta, tem que ser. Fecha a mão e dá com força. É você pra um lado. O cara pra o outro. A cara de susto me incomodava muito. Queria sair dali, voltar pra rua e só dormir depois de me sujar com o sangue do filho da puta. Quem sabe levar um dente de souvenir. Adoro souvenires, mas não os compro. Têm mais valor quando levamos embora, tipo um cinzeiro, uma bandeira. Com certeza teria um bom lugar na minha casa pra colocar um ou dois dentes do filho da puta. A última coisa que eu faria era saber o nome dele. Pra colocar embaixo na moldura. "Filho da Puta, Lembrança de Portugal". Ou "Fui pra Portugal e lembrei de você". Galo de Barcelos é o caralho. E o arranhão na testa, a voz trêmula. Isso me incomodava. Mas não mais que outra coisa. Isso sim me dava vontade de sair na mão aliu dentro mesmo. Encher de porrada a cara de dois amigos que tavam junto com meu mano. Vacilaram. Pipocaram. Amarelaram. O cara chegou com o papinho tradicional de nego que quer entrar numas. O menu passa por "Ei, você não é aquele cara que mexeu com meu irmão?", "Tem um cigarro aí?". Qualquer resposta é inútil e o filho da puta vai conduzir a conversa até a hora de fechar o pau. Eram dois caras, mas só um era sangue ruim. O outro não tinha nem tamanho de homem. Do nosso lado, meu mano e mais dois. Vantagem? Vantagem o caralho. O filho da puta levou um papo que os brasileiros andam a matar portugueses, se meu mano não tinha medo dele e mais um monte de merdas. Fechou a mão e deu na cara. Gritaria. O amigo magrelo e os dois caras do nosso lado. Onde já se viu armar berreiro numa treta dessas? Vacilou, tomou o contrataque. Briga tradicional de quem não sabe lutar acaba no chão. Rola. Rola mais. Mais um pouco e o brother tava em cima do inimigo, pronto pra mostrar alguma coisa pro gajo. Aí aconteceu o que me deixou fodido pelo resto da noite. Os manos do nosso time segurando o companheiro. Gritando. Tirando a única chance do filho da puta levar um pouco do que procurava. Na briga não tem meio termo. Não tem em cima do muro. Ou você é São Paulo ou Corinhthians. O árbitro não existe. Não existe separar. Corre, chora, mas não separa. Fechou o tempo, fechou a mão. Veste a camisa e dá porrada até quando for possível. Ou até quando for preciso. Mas não separa não. Um dia vamos entrar em campo com o time titular, mais coeso. Os jogadores certos. Daí a gente arranja uns troféus pra levar pra o Brasil. Odeio violência. Odeio xenofobia no mesmo nível que odeio a porrada. Mas se o caldo já entornou, não sou eu quem passa o pano.

Ouvindo: Racionais MC´s - Trutas e Quebradas

Sunday, January 28, 2007

Pisou, bum...

Pisou (bum!) cai um por um
Pilantra na quebrada amarga o gosto da dundum
Se cai no X toma soco e dá o cu!
Aí! A bandidagem cria as leis e dita as regra
Ser criminoso e indigno de cela é foda
Aqui fora, se cresce e apavora
Mas só troxa desliza na minha demora...

Hojr fui jogar bola com a rapeize de Cabo Verde e me senti no clipe do Tupac. Dêem-me licença de eu achar tudo isso que eu achei aí em cima então.

Ouvindo: Ndee Naldinho - Tributo ao Pilantra

Thursday, January 25, 2007

Manuscrito recuperado...

Isso tava no meu caderno da faculdade. Isso, eu tenho só um caderno de 100 folhas para a faculdade e já acho muito. Prefiro passar o tempo a ouvir o professor e refletir sobre o que ele fala e as consequências da falação em minha vida prática. Aí o caderno vira um lugar para registrar impressões sobre o cotidiano, eternizar sensações e idéias que me atormentam, fazer desenhos e por aí vai. Hoje, folheando o caderno, deparei-me com ese manuscrito que agora compartilho com vocês:

É possível?
É possível ter saudades daquilo que mal cheguei a ter? É possível sentir um aperto tão forte no peito por causa de alguns breves minutos? Sim, se somarmos a uma e a outra vez que nos encontramos, foram apenas alguns minutinhos. Hora parecem-me infinitos, hora parece que nem os cheguei a viver, foram apenas devaneios do meu desejo, sonhos acordados que eu assisti sem seu convite. É possível ter saudades de palavras que hoje me parecem vazias? É possível? Nada de vazias tinham naqueles breves momentos, seus olhos não mentiam, suas mãos traduziam muito bem aquilo que hoje tentas esconder. É possível que meu coração bata em falso a cada vez que te vejo? É possível que o tenha roubado tão sorrateiramente que, naqueles poucos minutos, você levou-o embora sem que eu percebesse? Os carinhos que pedia, com os quais sonho a casa hora, estão para sempre guardados para ti. É possível que não os quisesse de verdade? Mais uma vez seus olhos te enganaram pra me dizer a verdade, eles te traíram. É possível que você os tenha traído, calando seu olhar que insiste em chamar por mim? É possível que me queiras longe ou sua ausência é o remédio que encontraste para enganar seu coração? O desejo é hoje mais forte que a lembrança e sua presença é a cura para o nosso mal. É possível que, ainda assim, desejes nossa solidão? É possível que devolvas o meu coração?

Texto sem dona, escrito após uma aula em que o professor de Mentalidade e Cultura Portuguesa falava sobre a palavra saudade. Saudade é a mistura de desejo e lembrança. Às vezes penso sentir saudades de alguém, mas me falta a lembrança. Outras vezes, é forte a lembrança, mas o desejo já se esvaiu. São poucas as pessoas que conseguem queimar a minha alma a cada minuto, aparecendo em cada sonho mostrando o desejo e a lembrança que tenho dentro de mim. Espero vê-los logo para poder por em forma todo o meu desejo e deixar a lembrança dissolvida entre abraços e sorrisos. É possível?

Ouvindo: Scissor Sisters - Laura
"Can't you give me some time?
I got to give myself one more chance
To be the man that I know I am"

Friday, January 19, 2007

Publicidade


Devido à crise tive que me render ao capitalismo que impera na rede e publicar esse anúncio, que me rendeu uma quantia razoável de dinheiro:

Curso de Tiro para Bandidos de Filme
Cansado da falta de mira? Saco cheio de mirar nos mocinhos e só acertar balcões, areia e carros? Mesmo usando uma Uzi, não acerta o protagonista nem de raspão? Sem falar na calma que os caras legais tem para te acertar. E quando eles ainda surgem com frases de efeito como: "Go on, shoot, make my day"? A vida de bandido de filme é cansativa e a cova rasa acaba sendo destino de toda essa classe. Pensando em acabar com sua falta de mira e estilo, o Instituto Universal Brasileiro oferece o curso semestral "Aprenda a Atirar em 3 Lições". Com material totalmente apostilado e com recursos audiovisuais, o curso a distância trará novos horizontes em sua carreira no crime, acabando com a fama de zarolho, cegueta e outros adjetivos tristes que sua família insiste em repetir.

Módulo 1: Atirando para matar
Módulo escrito por Cézinha do Querosene, matador sério com mais de 53 homicídios no currículo, incluindo queima roupa e tiro a longa distância. Nas apostilas e vídeo, o especialista ensina você a ter sangue nos óio, despertando a verdadeira vontade de matar em seu coração. Com cobaias gentilmente cedidas pelo governo de Fleury, o vídeo mostra os pontos fracos do corpo humano e sequências de locais a serem alvejados.

Módulo 2: Frases de Efeito para encomendar o defunto
Material realizado por Harry Callahan, famoso detetive de San Francisco na década de 70. Na apostila você encontrará fontes de inspiração como essa para ser poético antes do assassinato:
"I know what you're thinking. "Did he fire six shots or only five?" Well, to tell you the truth, in all this excitement I kind of lost track myself. But being as this is a .44 Magnum, the most powerful handgun in the world, and would blow your head clean off, you've got to ask yourself a question: Do I feel lucky? Well, do ya, punk?". Dirty Harry ainda apresenta outros modelos de poesia matadora como "Ezequiel 25-17" de Jules, o parceiro de Vincent Vega em Pulp Fiction.

Módulo 3: Matando com calma e alegria
Os especialistas Roger Murtaugh (Danny Glover, Máquina Mortífera) e Reggie Hammond (Eddie Murphy, 48 Horas) ensinam que matar é uma verdaeira arte. Quem não se lembra do giro de pescoço de Murtaugh na cena em que ele mata o bandido na cena do cais do porto, ou da cara de felicidade que Hammond faz ao mirar o inimigo, apoiando a mão que atira no braço esquerdo dentro de uma boate em "48 Horas"?. Aparição especial de Mr. Blonde, de Cães de Aluguel, ensinando músicas e danças sádicas adequados para o momento final.

Com o material que será enviado pelo correio, você estará pronto para ser um bandido de sucesso e ganhará o respeito de seus amigos e familiares. O curso é composto de 3 apostilas e 3 vídeos correspondentes aos módulos, além de um exame final que dá direito ao diploma de bandido profissional. Se você encomendar o curso nas próximas horas, receberá de brinde os módulos "Corpo Fechado - Como desviar de balas inimigas" e "Matando com o que estiver à mão - breves explicações sobre o uso de bastões, canos e machados". Não perca tempo, não seja mais um fracassado no mundo do crime. Pegue tu telefono e ligue já.

Ouvindo: Metallica - Seek and Destroy

Saturday, January 13, 2007

O couchsurfing é jesus e os hóspedes somos nozes

Se você ainda não é membro do couchsurfing, não conhece ou nem faz idéia do que seja, não comece a ler o texto. Entre no site e saiba do que se trata. Resumidamente, é um projeto de troca de hospedagem gratuita entre pessoas do mundo inteiro e o que tornou minha viagem tão barata, interessante e inesquecível.

Nunca gostei de fazer programas turísticos. Acordar no hotel antes das 10h30 pra pegar o café da manhã, pegar uns folders na recepção e sair pelas ruas em busca dos pontos recomendados por sei lá quem que acha que a Catedral de Rolmsternem e o Museu John XXII são o que há de melhor em sua cidade. Depois desse passeio, todo feito táxi, conduções fretadas ou os incríveis ônibus de dois andares, um almoço bem caro em algum restaurante também recomendado, com menu em inglês, francês e italiano (além da língua nativa). Pela tarde um passeio a pé, porém estritamente demarcado e acompanhado de mapa para que não exista o menor risco de se perder. Um chá em mais um bar turístico, volta pro hotel, jantar e talvez uma discoteca recomendada pelo recepcionista, o qual nunca pôs os pés na Jungle Fever nem na Raimond 45. Junte-se a isso uma câmera bem grande pendurada no pescoço, camisa do Brasil, de preferência de algum jogador como Kaká ou Ronaldinho. Como está frio, todos os casacos mais chiques que talvez nunca mais terá a chance de usar.

Conseguiram me visualizar nessa situação? Aí é que entra o tal do couchsurfing. Confesso que no começo não botava muita fé na parada, parecia meio comunista demais pra mim uma pessoa oferecer um lugar na casa dela pelo simples prazer de hospedar. Desconfiava que fosse meio doutrinário, como uma seita e durante a estadia apenas nos reuniríamos para discutir em torno de nossa fellowship. Ou seriam verdadeiros chatos que nos receberiam, enchendo a estadia de regras e passeios chatos. Nada disso. Existem pessoas no mundo que estão dispostas a compartilhar seus espaços, sofás, colchões, armários, banheiros e geladeiras pelo simples prazer de fazer contatos pelo mundo, conhecer culturas distintas, contrastar diferentes pontos de vista sobre acontecimentos globais. Já parou pra pensar qual a opinião de um sueco sobre o futuro de Cuba?

Além disso, é possível conhecer os hábitos dos nativos. O que os dinamarqueses comem no café da manhã? Quais são suas aspirações profissionais? Posso dizer que conheço muito dos três países diferentes em que fui recebido por membros do couchsurfing do que vários estados brasileiros que conheci turisticamente. Os caras te recomendam coisas que eles conhecem e aprovam, sem rabo preso com empresas de city tour, restaurantes da moda e coisas do tipo. Com esse tipo de guia turístico é possível conhecer lugares mais autênticos, bares frequentados por nativos e imigrantes, que não servem espaguete para agradar a todos e nem tem menu em inglês. Vamos falar um pouco sobre quem são essas pessoas:

Evelina e Andreas - Malmo - Suécia
Sabe aquele casal maluquinho da sua escola, o cara e a mina sempre de preto, alguns piercings e o gosto comum pelo hardcore ou coisa que o valha? Pois é, na Suécia eles podem casar e levar uma vida muito boa, arranjar um apê, decorá-lo, enchê-lo de CD´s, discos e livros, encher a geladeira e os armários, videogame, gato e etc, tudo isso sem mudar muito o estilo de vida adolescente. Evelina trabalha meio período como enfermeira e Andreas trabalha algumas vezes ao mês no turno da noite dos correios. Fomos recebidos na terça-feira e apenas deixamos as malas em casa com destino ao bar de estimação do casal. Lá conhecemos a cerveja sueca e Magid, um imigrante iraniano que morou em Madrid e que quase chorou quando Cróvis disse que conhecia o bairro de Leganez. "I have a daughter in Leganez...". Voltamos pra casa, esticamos a balada na cozinha, atacamos a geladeira.... Pena que ficamos pouco por lá.

Rasmus, Morten & Rasmus - Copenhague - Dinamarca
Rasmus é auxiliar de cozinheiro e foi nosso host oficial. Acontece que ele tinha que ir ver a família no dia 24, data na qual Bigode seria jogado nas sarjetas dinamarquesas. Morten, que também é ajudante de cozinheiro, resolveu nos acolher por mais uns dias e, de brinde, acolheu Tato e Cróvis em sua residência. O primeiro Rasmus foi o responsável pela nossa entrada na "Operação Mendigo Infiltrado" e o segundo Rasmus é irmão de Morten, adolescente, cabeludo e com cara de chapado. Sonha em ser mecânico, mas não é engenheiro mecânico, é só mecânico mesmo. Aposto que vai ter uam vida calma e segura. Segue uma receita imperdível de massa aprendida durante essa estadia:

150 g de bacon
150 g de cogumelos
1 beringela
100 g de cream cheese
cebola, alho e sal
*essas quantidades foram todas chutadas para dar mais credibilidade. Coloque o quanto você quiser de cada ingrediente, pique bem pequeno e refogue separadamente os ingredientes. Junte tudo e adicione o cream cheese, cozinhe por uns dois minutos e sirva com a massa de sua preferência.

Catherine - Naestved - Dinamarca
Chegamos na casa da garota e todos estavam assistindo Senhor dos Anéis III, aquele que não tem fim. Depois do filme, não tiveram muita disposição pra passear com a gente, mas nos deixaram a vontade para cozinhar e beber durante a Terça Cerca Frango. Destaque para o passeio pela sala de calcinha.

Haina - Bruxelas - Bélgica
Depois de algum tempo passado em quartos apertados, hospitais abandonados e casas de primos de amigos meus, voltamos pra o lar de nossos amigos couchsurfers. Tá certo que a Haina era do Hospitality Club, mas dá tudo na mesma. Chegamos em Bruxelas às 6h da manhã e ficamos na rodoviária conversando com mendigos poliglotas só pra dar um tempo e não chegar em casa alheia antes do sol nascer. Lá pelas 9h fomos pra casa dela e ela nos atendeu com voz de sono e mil desculpas pela ressaca. Devidamente recuperada, compareceu ao jantar e guiou-nos durante um passeio por um mundo de cervejas diferentes e exóticas. Na manhã seguinte ofereceu o melhor café da manhã do mundo, fez sanduíche pra viagem e levou-nos em seu mini-carro até a estação. Se eu não tivesse mãe, pedia pra Haina me adotar.

Tato e Cróvis - Madrid - Espanha
Meio chatos, não tomavam banho e nem levavam para bares legais. A minha única decepção com o Couchsurfing.

Nem tudo são flores. Mas digo que o Couchsurfing entrou para o panteão de montros sagrados da internet. Temos o oráculo (google), o Couchsurfing e a televisão (youtube). Em uma ideologia católica, o pai, o filho e o espírito santo. O filho é jesus. O Couchsurfing é jesus. E os hóspedes somos nozes.

Ouvindo: Lou Reed - This Magic Moment

PS:Tô muito triste com o blogger. Tive que reescrever partes desse texto três vezes, não consigo colocar link ocultos sem correr o risco de travar tudo, além de outros problemas. Pau no cu de quem resolveu mudar as coisas por aqui.

Friday, January 12, 2007

A estranha sensação de se sentir em casa em um país distante

Voltei de viagem e, logo que saí do metrô na Estação Campanhã, Cidade do Porto, senti-me em casa. Não sei se foi o sol, não sei se foi a sensação de poder ler, entender, conversar, pedir, discutir, xingar, fazer qualquer coisa que quiser na minha língua. Não sei se foi a pastelaria, o fato de conhecer tudo o que serviam por lá e poder escolher o que queria comer sem ter que apontar, gesticular ou grunhir. Não sei o que foi, mas senti-me em casa quando voltei pra Portugal. Achei que nunca ia me sentir assim antes de voltar pro Brasil, mas comparando com os países nórdicos, estamos realmente nos trópicos por aqui. O povo é mais caloroso, o sol é mais caloroso, as coisas são mais bagunçadas, há mais improviso, mais acaso acontecendo. Agora posso dizer a quem perguntar: moro em Portugal.

De volta de viagem, fui apanhado por um começo de gripe. Há mais de 5 anos, desde que deixei a casa de meus pais que eu não ficava doente. Daí falta ânimo pra mexer no blog, mas há muito pra ser contado por aqui. Não percam a incrível saga da "Operação Mendigo Infiltrado" e outras estórias que em breve vou lhes contar. É só essa gripe passar que eu conto, eu juro...

Ouvindo: Mutantes - Portugal de Navio