Wednesday, February 24, 2021

O carnaval que nunca aconteceu

A melhor música de todos os tempos, perfeita pra pular carnaval, foi acidentalmente composta pelos Gipsy Kings. Volare, cantare. Introdução em solo de guitarra e canto: esse é o momento pra encontrar aquele par de olhos e, olhando profundamente dentro deles, cantar mais ou menos assim:

Pienso que un sueño parecido no volverá más
Y me pintaba las manos, la cara de azul
Y de improviso en el viento la vida me llevo
Y me hizo a volar en el cielo infinito

Seja eficaz, olhe com vontade de olhar, de criar contato, desejando. Pois a música não espera a tua vergonha e chega logo em sua segunda fase, a fase da catarse coletiva.

Volaré, oh oh
Cantaré, oh oh oh oh
Nel blu dipinto di blu
Felice di stare lassù

Nessa hora o povo todo dança coletivamente com as mãos pro alto, todos se misturam, se olham, sorriem. Vale até trenzinho. Agora teu par está no meio da multidão, presa fácil para outros desejos, outros carinhos acidentais e fugidios tais que uma mão que esbarra na outra, um ombro que roça um outro ombro anônimo, a mistura que agrada todo folião de respeito. Hora de recuperar aquele olhar, a fase três da canção, chave para que a dança continue até o fim num montante de tensão e cumplicidade. Os ciganos continuam. E tu também.

Y volando, volando feliz
Yo me encuentro más alto
Más alto que el Sol
Y mientras que en el mundo
Se alejó despacio de mi
Una música dulce
Tocaba solo para mí

Chegamos na fase crítica de Volare, o momento em que os olhares iniciados há exatos 1 minuto e treze segundos devem ter tomado uma forma magnética. Se não for o caso, hora de procurar o pesado mais próximo, abrir mais uma latinha e volatr algumas casas no tabuleiro. Se a atração atrai de maneira atraente, Paco Baliardo dá a deixa com um dedilhado de seu violão antes de Nicolas Reyes retomar o hino.

Pienso que un sueño parecido no volverá más
Y me pintaba las manos, la cara de azul
Y de improviso en el viento rápido me llevo
Y me hizo a volar en el cielo infinito

Agora é tempo de dar as mãos. Segure as duas mãos da pessoa, na altura da cintura e proponha, silenciosamente, uma dança a dois. Se tudo está bem, o mundo já desapareceu de vosso entorno e a única coisa no campo de visão do casal é o olhar do outro. Enlace a cintura do outro, enquanto o outro braço toma a posição básica de uma dança de salão qualquer. Dance. E cante baixinho enquanto teu olhar está atravessando os olhos do outro. Quando Reyes retomar o "volare", voltem para o mundo da multidão e pulem juntos, rodem, dancem. E retomem a dança a dois, e pulem, e rodem, e dancem. E aproveitem do tempo que parou para ver os dois. Se ainda houver dúvida, dance em volta do outro, como um cigano à beira do fogo, batendo palmas para o alto. Rode em volta, sorrindo, olhando. Ao chegar ao breque, 3 minutos e 37 segundos depois, pare. Olhe. Sorria. Aproveite.

Ouvindo: Gipsy Kings - Tu quieres volver