Wednesday, December 31, 2008

Palavrinhas para o ano novo

Nao, nao sao falas minhas, mas resumem varias coisas que rolaram agora no fim do ano. Fiquem entao com Mr Wolf, personagem favorito do filme predileto explicando seu modus operandi:

Vincent: A "please" would be nice.

The Wolf: Come again?

Vincent: I said a "please" would be nice.

The Wolf: Get it straight, Buster. I'm not here to say "please". I'm here to tell you what to do. And if self-preservation is an instinct you possess, you better fucking do it and do it quick. I'm here to help. If my help's not appreciated, lots of luck, gentlemen.

Jules: No no, Mr. Wolfe, it's not like that. Your help is definitely appreciated.

Vincent: Look, Mr. Wolfe, I respect you. I just don't like people barking orders at me, that's all.

The Wolf: If I'm curt with you, it's because time is a factor. I think fast, I talk fast, and I need you two guys to act fast if you want to get out of this. So pretty please, with sugar on top, clean the fucking car.

Ouvindo: Ornatos Violeta - Ouvi Dizer

"A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!"

Tuesday, November 04, 2008

A Lei de Gérson é o nosso evangelho


A cidade acorda-me cedo demais e passa a tarde toda brincando de torturar-me com o som incessante dos cachorros que impedem minha cabeça de desligar-se encostada no travesseiro vagabundo, que veio de brinde com o colchão de molas. Falar sobre justiça na vida traz sempre à lembrança a imagem desse sujeito aí em cima e o seu célebre ensinamento que deu à humanidade. Não nasci sabendo, mas tenho certeza que sei desde que me lembro saber que o mundo não é justo e tal e coisa. Assim sendo, posso pressupor direitos de julgá-la de meu modo, sempre justo e imparcial, excluindo-se logicamente toda a subjetividade envolvida no assunto. Acontece que eu amo os velhinhos, acho-os fofos e tenho toda a vontade de aprender com eles, de dar-lhes atenção e tudo mais que um samaritano qualquer desejaria fazer. Porém, desprezo com a mesma proporção os velhos chatos que levantam a mão trêmula fazendo um sinal de pare quando da primeira aproximação. Adoro compartilhar tudo o que posso, lembrando que o limite do comunismo reside nos limites do corpo, porém sinto um asco velado por aqueles que camuflam dividendos, fazem peso no divisor e tomam parte nos restos. O fiel de suas balanças é recheado de gesso e os pratos mais pesados semprem são tendenciosos para o seu lado. Esteja onde estiver, Gerson abençoa-nos reverente enquanto seguimos o seu evangelho de um só ensinamento. A cidade aprendeu com o canhotinha e aplica-nos golpes a cada momento em que estamos absortos com dua impessoalidade. A leve cotovelada para abrir espaço na escadaria do metrô, a cabeça baixa de quem evita medroso qualquer contato que venha do lado de fora de si mesmo. O mesmo olhar fugidio daquele que não consegue encarar o freguês desconfiado do peso da mercadoria, dos infinitos contrapesos colocados para equilibrar a balança viciada, prevendo por parte do vendedor aquele velho golpinho do "eu não sabia". A conta é mais ou menos assim: um pra mim, um pra você. Um, dois pra mim; dois pra você. O que é seu é meu. O que é seu é meu também. Puta matemática errada, aplicada com sadismo pela cidade, que ri descontrolada de mais um de seus filhinhos.

Ouvindo: Aquela vinheta do Danoninho (só os três primeiros versos)

Monday, October 13, 2008

O buraco do espelho está fechado

Publico aqui hoje essa música, que pra mim não é bem uma música, parece mais com um poema que descreve bem uma situação que vivi lá ontem. A descrição é perfeita, na hora do surto a pessoa fica fechada do lado de dentro do espelho, todas as portas estão fechadas. É difícil quando não reconheço ali naquela pessoa todo o amor incondicional a mim dedicado durante a maior parte do tempo e a minha voz dissolve-se no vento, enauqnto busco desesperadamente seu olhar. Seu olhar está morto e atravessa meus olhos rumo a lugar algum. Preso aqui do outro lado, resumo-me à covarde tarefa de gritar seu nome, em meio a chacoalhões e abraços desajeitados. Torço para que voltes logo, que a porta se abra e possamos nos reconhecer mais uma vez. Estou aqui do lado de cá e, como não me permites do lado de lá, fico esperando, dormindo com os dois olhos abertos, molhado de suor gelado e de rancores e remorsos que impedem a luz de ir embora de meus olhos. Onde estiveres, que esteja em paz.

O Buraco do Espelho - Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora


Ouvindo: MV Bill - Traficando Informação
trecho: "bebe pra vacilar, por isso que eu te digo, seu otário, se não sabe beber, bebe mijo"

Friday, October 10, 2008

O desmaio

A pior hora é a do teto preto que começa a se abir e o angulo de visao improvavel que observa as falas ressonantes daqueles que tornaram-se de repente estranhos. Quando a claridade volta nao se sabe onde está. Sensaçao de ter acordado no meio da rua como se tivessem tirado-te a cama e jogado-te no centro da cidade depois de um sonho estranho e forte. A cabeça colada ao chao duro tenta filtrar os olhares curiosos daqueles que passavam por aquele momento. Suas vozes macias tinham um som a pincipio disforme, mas que logo trazem conforto enquanto reconhece aquele teto e as camas com rodinhas. Maca é cama escrita ao contrario. Todos os sonhos e piadas recentes passavam pelo cerebro atordoado durante o rapido sono ali no chao do hospital. Tempinho depois daquela cobra que tentava comer outra cobra que vira ali no Butantã passar rapido pela cabeça, surge o rosto do médico dizendo que estava tudo bem.

Tudo começou com o japones cutucando com demasiada força e diminuta astucia o corte profundo, em forma de V, de onde o sangue fluia livre frentes as vistas do medico e do paciente. A agulha recheada de anestésico nao encontrava pouso em meio ao machucado, que perdia forma com os movimentos do japones. O sangue que busca sair do corpo a todo custo e a tricotagem executada pelo maldito japones traziam dor, falta de ar e vertigem. Bateu o pé umas tres vezes no chao enquanto tentava respirar fundo, numa inutil e enganosa tentativa de controlar a mente que dava sinais de interferencia em sua sintonia. Maldito japones que me colocou ali sentado num banquinho, de frente para a maca e de olho colado no sangue que corria sobre a mao esquerda, vendo a pele virando-se de um lado para o outro, impossivel saber se ainda parte de mim ou pedaço perdido para uma faca velha de cozinha. Falta o ar, falta a corrdenaçao dos pensamentos, a viagem do desmaio chega antecipada antes mesmo de tombar ao chao. Pensa-se em coisas cada vez mais distantes dali. Sente-se que algo foge de dentro de ti. Nota-se o colapso que está chegando e logo as trevas chegam de vez. O corpo desliga-se em sinal de protesto. A mente encarrega-se da programaçao de sonhos que dao a puta da impressao de que acordou-se no meio da rua. A voz suave da enfermeira traz-me de volta para onde estive antes, na cama do hospital, o dedo agora duro e gelado de anestesia. Costura logo, japones maldito. Logo chega uma vizinha de maca, o mesmo corte profundo e sangrento, em forma de V, bem ali do lado do dedao do pé. "Pai, tou com medo!" Queria muito dizer pra ela ter calma, que era coisinha a toa. Chega um doente de verdade, faixa tingida de sangue na cabeça e dores lastimosas pelo corpo. Hora dos machucadinhos irem pra casa.

Ouvindo: DJ Shadow - Product Placement (side A)

Friday, August 15, 2008

A menina, o gato e outras estorias

A corda em volta do pescoço do gato amassava seus pelos, apertava sua goela, entopia suas veias e expulsava sua lingua entre dentes afiados numa expresao de agonia em olhos saltados e umidos. A corda em volta da mao da menina apertava seus ossinhos e deixara uma marca vermelha, que depois soubemos que ficara a admirar esperando pela chegada da avo. O gato com olho saltado e a lingua já vencida não respirava mais, apenas dava os ultimos tremeliques antes de ir para o céu. Uma lagrima corre sozinha no rosto da garota no desenrolar da corda de sua mao. Deixara o gato no armario, acima da pia da cozinha. No seu quarto, espera tranquilamente pela vovo.

A mao velha, tremula e de frageis ossinhos vacila em levar o pesado copo cheio de conhaque com firmeza em direcao a boca murcha e enrugada numa expressao de agonia em seus olhos miopes e alucinados. O armario da vovo, acima da pia da cozinha, esconde de volta a garrafa de Domeq para a ultima dose antes de cruzar a cidade a caminho de sua neta. Atrasada, faz um rapido bochecho com Anapyon, coloca a dentadura, batonzinho e rua. Volta, abre a porta, mete os oculos e alcança um onibus. Uma lagrima faz cocegas no cantinho do olho velho, que a velha amparou com um dedo habil por baixo das lentes. No primeiro banco do onibus, espera melancolicamente pelo encontro.

As patas frageis que mal mantinham o seu corpo de pé tremiam de frio, de medo e fraqueza e seus olhos eram arregaladados e esperançosos, umidos e amarelos. Pela primeira vez do lado de fora do saco velho e nojento onde vivera os ultimos dias, jogado num buraco da rua. Diante dessa impressao de pura agonia, a mae não pudera negar acolhimento ao solitario gatinho ao ver as lagrimas que lavavam o rosto da menina, implorando piedade. No colo da menina ganhou dona e ganhou nome e, seus olhares, mais alegria. Atras do volante, a mae dirigia preocupadamente para casa.

Os dedos finos e bem marcados tremiam ao ponto da manicure advertir do perigo de corte pelo afiado alicate que comia ainda com exatidao as pequenas cuticulas. Explicava o atraso contando do pobre gatinho pretinho e magrinho que deixara a pouco em casa. A sogra atrasada para passar a tarde com a neta, a mulher atrasada para o seu amante. Escolhe esmalte vermelho, confere o baton e rua. Apressada, volta atras dos oculos escuros. Caminha ansiosamente para o encontro.

A mao calejada e decidida do homem percorre o corpo da amante entre gemidos e sussurros da mulher casada, preferencia cultivada desde os tempos de moleque na praia do Gonzaga. Os olhos castanhos e castigados em amarelo por alguns anos de abusos imploravam pelo carinho da mulher, que passou impune diante dos olhos do estivador uma unica vez na feira-livre. Pedia detalhes constantes sobre os planos da concubina, o golpe no marido, quem cuidava da garotinha. Combustivel extra que tanto o excitava e colava a mulher aos seus pés. Agora aliviado, respira ofegantemente esperando pela proxima vez.

A aliança humilde treme junto com a mao que desligava o telefone, a perna vacilava e o coraçao dava sinais de confusao. A filha falava sobre um acidente fatal, sobre sua avo e um gato desconhecido. Parara o primeiro taxi que vira e pedira pressa ao motorista, caso de vida ou morte e outras barbaridades preso no transito a beira mar. Na porta de casa pensava sobre o pior, sua mae dura e velha com aqueles olhos arregalados e frios mirando o primogenito. Aliviado e surpreso avistava agora a mae retomando consciencia, sua filha ao lado amparava a vovo. A velha contava que trepara na banqueta para alcançar algo escondido no fundo do armario, acima da pia da cozinha. O susto com o gatinho pretinho morto ao lado do leite em po mandara a velha desmaiada para o chao. A velha fora salva pelo gato. Os dedos firmes e castigantes do pai entranhavam-se aos cabelos da menina e uma lagrima fora expulsa pelo canto de seu olho esticado e arregalado. Uma lagrima raivosa fica presa dentro do olho do pai, que espera furiosamente pela mulher que volta da feira.

Ouvindo: DJ Shadow e The Cut Chemist - Brainfreeze

Tuesday, August 12, 2008

Procuram-se monstros


Procuram-se monstros de respeito para trabalho fixo, com contrato e beneficios. Paga-se bem e recompensa-se de acordo com o sucesso das operaçoes previstas para o trabalho. O candidato atuara na regiao de Sao Luis do Maranhao, contando com um grande portal espaço temporal em bom estado, alem de equipamentos e treinamento pessoal garantido pela agencia. Entre as qualidades procuradas estao o profundo desgosto e desprezo por crianças e tudo que pareça feliz no mundo humano. Gostar de nojeiras em geral, falta de bons modos e gosto por ferramentas como escova de privada e papel usado sao diferenciais desejados. Os candidatos que dominam a lingua do egoismo, do esperismo pelos outros fazerem algo por ti e do gritismo como ferramenta do discurso terao vaga garantida em nossa agencia.

O jogo
Croque Monster é um jogo de administraçao de uma agencia de monstros que prestam serviços na Terra, com o objetivo de assustar e comer criancinhas. Jogado em tempo real, o administrador da agencia deve esperar pela meia noite de acordo com o fuso horario de suas regioes controladas via portais no espaço para mandar seus funcionarios para os mais diversos desafios, desde criancinhas inofendivas a acampamentos cheios de espertinhos escoteiros. Alem disso, pode-se contratar novos monstros, despedir os monstros que nao sao compativeis com o perfil da agencia e descobrir novas tecnologias para encher a pança de criancinhas. Viciante, pero no mucho, ja que nao é possivel passar o dia todo jogando, sempre ha a espera pelo dia seguinte. Tentar burlar isso com a instalaçao de portais em diversos fuso horarios nao é uma boa pedida, pois os monstros precisam de varias horas de descanso. O unico porém é que o jogo so esta disponivel em frances, mas eu conheço uma bela professora que pode ajudar-vos no caminho da construçao de vossas agencias. A empresa responsavel pelo jogo online preve o lançamento de um bonus pack que permitira adicionar caracteristicas proprias dos jogadores em seus monstros. Tenho uns amigos que com certeza vao rodar a banca rapidinho e transformarao-se logo nos maiores monstros que Croque Monster ja viu descer a Terra.

Ouvindo: Asian dub Foundation - Enemy of the Enemy

Friday, July 25, 2008

A televisão me deixou burro demais


A Derci morreu. Ninguém saberia estimar o impacto que foi a queda desse tabu, acreditava eu piamente que ela já tinha arranjado uma concessão nessa única lei de verdade que rege a nossa vida. Sua morte veio buscar um corpo velho e débil, mas hoje a senhora da foice já se recuperou do susto. As notícias correm por todos os canals da TV e fica difícil escolher se quero ver o tiozinho vereador apresentando o seu baiiro de base na TV Câmara ou se prefiro a simpática velhota da Gazeta mostrando a confusão paulistana com aquele olhar de vó repreensiva. Esses dias ouvi um senhor falar que o pó da Vila Natal não fazia mal para a saúde, só era uma pena que hoje está tudo asfaltado. O merchandising chegou em todos os níveis da televisão, tudo tem um espacinho para ser anunciado e todos querem anunciar. O inocente senhor talvez só falava mesmo da poeira que se acumulava pelo campo de várzea, mas na minha cabeça foi um nítido convite aos entendidos. Nem tudo são espinhos nessa imissão entre a propaganda e a tv, sintonizo o canal do boi e vejo ali desfilando toneladas de carne de primeira qualidade passando apressada pelo plano do vídeo. Quem já assistiu o Pica Pau consegue entender bem do que falo aqui. Mentira, não vejo um espeto de carne disfarçado de animal. Vejo também litros e litros de leite e um tanto bom de couro para vestir a familhagem. Maldade? Pode ser que sim, admito o argumento como fraco e pouco desenvolvido, mas explico rasteiro que o homem é mal por natureza e é ainda mais mal com o homem mesmo que com os bichinhos. Contratam-te por um dinheiro ridículo, te dão um cartãozinho que permitem o seu pasto, confinam-te em uma baia, onde não há mesmo muito espaço para movimentar-se. O resultado é um animal depressivo, sedentário, pouco saudável. De alimentação reduzida e imposta pelo dono do rebanho. Todos estamos dispostos a isso, contanto que um dia seremos aqueles que têm o pé dentro do sapato que pisa na cabeça do outro homem. Assusta-me o susto que tantos se pregam ao ver o homem pisando nos bichinho para satisfazer, quando não uma necessidade, um simples prazer. Alguém poderia explicar em torno do que gira a própria vida que esteja fora dessa órbita de prazer e necessidade? Finalizando a explicação rasteira, que poderá muito bem ser retomada pessoalmente, eu/tu/ele/nós/vós/eles é mal e praticamos esse mal para garantirmos o que somos. Vejam "Pesca Mortal" no Discovery Chanel e vejam a maldade que um homem poder colocar em cima do próximo para pescar uns caranguejos gigantes. E os bichinhos nadando no fundo do barco, esperando a grande oportunidade de conhecer o ser humano, o privilégio máximo a ser buscado por um animal. Resumindo: se não gostas de Foie Gras, PETA pra ti.

Ouvindo: Racionais MC´s - Vida Loka 2
Pobre é o Diabo, eu odeio ostentaçao, pode rir, ri, mais não desacredita não, é só questão de tempo, o fim do sofrimento, um brinde pros guerreiro, Zé povinho eu lamento, verme que só faz peso na Terra, tira o zóio, tira o zóio, vê se me erra

Monday, June 16, 2008

explicaçoes confusas sobre o dia de hoje

Como explicar o funcionamento da tv brasileira para dois jovens cujas mães conheceram-se em outro pais, diferente de ambas a terras natais? ela canadense olha enquanto explico o programa do datena. ele irlandes compara-nos com os vindos de bangcoque (a cidade). Como faço para explicar todo o perguntado enquanto atras de mim, surpresa da cena, uma outra menina, de outro pais, diferente de ambos e diferente das patrias da maes, segura uma xicara quente de cha contra a testa, enquanto mira a mesa de olhos fechados. A maneira perfeita de explicar o datena mostrando: "ta la, mais um corpo estendido no chao!" Ta tudo muito confuso hoje em dia, observa o pequeno irlandes os prédios na descida para o anhangabau. isso é facil explicar, arte deco, bolsa de valores, ele entende do café, que toma sem açucar e do futebol, que assiste no bar sem muito entusiasmo. ela do lado de fora do bar conversa com ela, vinda de outro pais que nao os de nenhum outro personagem até entao, exceto o da menina que segura a xicara contra a testa e vem tambem da frança. minha mulher, a segunda francesa a entrar nessa historinha, explica com facilidade coisas da cidade grande. eles nao pedem grandes explicaçoes sobre as pessoas que ficam fora de casa por muito tempo, andando e deitando pelas praças. eu explico so que vamos demorar para chegar de volta a casa. eles esperam, ela desce para dar uma aula de frances. o transito é auto explicativo. chegamos em casa e a campainha toca, é ela, assustada, entra em casa, nao fala nada, entra na cozinha para um cha. tempinho depois eu vi ela com a xicara encostada na cabeça e comecei a escrever. espero por ela. hasta la meet you.

ouvindo - alguma musica do gothan project que ta tocendo no mp3 dele.

Tuesday, May 27, 2008

Acorda, viciado

Depois de uma grande viagem, a vontade aumenta. Vontade que se chama paranóia, levanta da cama, as pernas doem. Muito. Desce as escadas cambaleando e segurando para que as pernas não desistam do peso do corpo. A cabeça começa a trabalhar lentamente e todo o seu espaço é ocupado pela busca da nova dose. Nada como a própria casa para um viciado. Quando estamos longe, não há como reclamar, a parada vem batizada, misturada com coisas estranhas e usamos só na esperança de um dia pegarmos o bagulho purão, que faz cada veia saltar e a cabeça ir a milhão. Segue caminhando pela casa, sem saber direito onde procurar o pó. Merda de dividir casa com outras pessoas, o potinho nunca está onde você deixou na última dose e a tortura enquanto o pó não aparece faz aparecer um sino dentro da cabeça. Achou. O gás. Maldito gás que sempre insiste em não fazer fogo. Cadê um puto de um isqueiro que funcione? Regula. Funciona. Agora vai. O pó tá no esquema. Arruma meticulosamente a pequena mesa com cada instrumento necessário ao pequeno ritual. Só precisa ver a água borbulhar antes de jogar o pó e chegar a alegria. Borbulha, maldita água filha da puta. A vontade faz o olho esquerdo palpitar e o coração segue o ritmo frenético da pálpebra. Como todo bom viciado, preciso de uma dose grande antes de enfrentar a rua. Treme a mão. Treme a perna pesada. A água tá quase. A colher, onde está a colher preferida que há tempos acompanha seu vício? Procura. Acha. Leva até a mesa. A água borbulha. Pronto, o pó tá junto. Precisa só que os dois se encontrem e virem uma só coisa. A dose está pronta. A mão direita treme. A imaginação voa longe. A melhor hora antes de uma dose é a sensação de que dentro em breve estará em um mundo novo. É agora. O líquido escuro e amargo está pronto para invadir meu corpo. Faltou o leite. Pronto. Café também é droga.

Resposta ao post que vi no Don Fernão

Ouvindo: Nação Zumbi - Samba Makossa

Friday, May 16, 2008

Ronaldo anuncia namoro com Rebeca Gusmao

Afastando os holofotes do imperador Adriano, Ronaldo, o fenomeno, anunciou publicamente seu namoro com a nadadora Rebeca Gusmao no programa "A Noite é uma Criança". Ronaldo participou de uma pegadinha ao lado de Otavio Mesquita, que convidou a nadadora para experimentar o polemico maiô LZR Racer Speedo. Distraida na dificil tarefa de cobrir seu corpo com a roupa de borracha, Rebeca nao notou quando o Fenomeno apareceu atras dela, tapando seus olhos e perguntando o tradicional "adivinha quem é?" Emocionada, Rebeca nao conteu o choro durante o demorado beijo que os desportistas trocaram ao vivo. Afastada das raias por uma condenaçao por doping, Rebeca Gusmao quer compartilhar cada minuto ao lado do Fenomeno durante a sua recuperacao.

Ouvindo: Racionais MC's - A Vitima

Tuesday, May 06, 2008

Por onde anda o Ratinho?

Balanço Geral: homem encontrado no sertão diz ser mais louco que o Michael Jackson. A TV anda dura, já ouvi gente dizer que anda com saudade da Dita, que não deixava o pessoal ver qualquer coisa na televisão. Um padre vende passagem para conhecer os caminhos de Deus, no outro um pastor cobra logo o pedágio para levar todo mundo para o Senhor. De um canal para o outro vejo em relance o Ratinho. Da sala de casa, revive momentos em "Por Onde Anda?", porção de parentes, sentimentos sinceros em paranaês lascado. Muda. O dedo coça e a cada cagada o programa e o canal vão pro fim da fila. Que ele torça para que a volta até o vigésimo quinto canal seja a mais breve possível. Que eu não encontre programas em que Lobão e Humberto Guéssinguer discutem filosofia. "O caminho de todos os cliques será uma via larga e de mão única em direção à grande máquina. A máquina come cliques". Lobão interfere, com cara de conteúdo: "veja bem! não é uma criança come um clips". Guéssinguer retoma: "A máquina não se engasga. Ela abre a boca no fim da estrada e mata a sua fome de cliques.". Muda. Ronaldo acusa Alexandre Nardoni de ser parecido com o Valdivia. Fenomeno nega ter conehcido Isabela. Desliga. A TV anda dura. E você, anda por dentro da TV?

Ouvindo - Titãs - Televisão

Thursday, May 01, 2008

Regurgitando na frente da TV

Aos 38, o jogo ainda pode esquentar bastante até os 45. Maldito calor proposital, controlado pelo visitante, direto do banco de reservas. Quem foi que inventou esse negocio de estadios cobertos? A alma do futebol, o imprevisto, tenta aparecer, mas é barrado pelo teto de ultima geraçao. Ta com duvida? Filosofe como o mineiro, coce a cabeça e recomece seu pensamento com um "uai". Mude os 38 para o tempo de jogo; jogue a primeira idéia fora. Mude o canal e jogue o jogo de artistas que vendem segredos as nove da manha. Sera que so a Simony revelaria segredos de alcova por dois mil reais? O diretor negocia um preço digno a ser pago por um nome "de conhecimento do publico". O telefone toca. Nao o do diretor, sim o meu. A macaca ta solta, gente disposta a vestir a camisa e empurrar com força contra os esmeraldinos. Dessa vez em estadio comum, sujeito a chuvas, trovoadas e rajadas de pimenta. Para o mundo que eu quero descer, a idéia de que tudo esta dado me incomoda ao ponto de repensar quem é o verdadeiro responsavel por esses escritos. Li escondido que as verdades virtuais permanecem no virtual. Como sou virtual so quando escrevo, quem escreve é virtual. Nao respira fora d'agua. Escrevo, logo existo. Mas so aqui. nao pergunte quem foi, pois os laudos serao sempre inconclusivos. Boa noite e boa sorte.

Lendo: Michel Melamed - Regurgitofagia

Monday, March 17, 2008

A pedra mata

Coça a cabeça, troca o cigarro de mão. Tá no fim, mais uma puxadinha. Troca o cigarro de mão, coça a cabeça com a outra. Fuma. Fuma com força e olha para a bituca. Quase o fim. Olha perdida para a janela do ônibus. Troca o cigarro de mão. Última olhada, o último trago. Joga a quimba na sarjeta. Coça a cabeça, olha perdida e solta a fumaça. O pensamento não pára. Sonha. Sonha enquanto coça a cabeça, que no sonho, não tem piolhos. Os cigarros não chegam aos tristes finais, duram o mesmo que a vontade de fumar. Passa outro ônibus, o olhar continua perdido. Sonha de roupas novas, sem ônibus nem multidão. Acordaria longe dali, longe com as preocupações do fim das coisas. Sonhava sem dinheiro, sonhava com vontade de fartura. Grandes tochas queimando pedras enormes, com cheiro de plástico queimando lentamente em seu cachimbo. O cachimbo era só seu, não era feito de potinho do Yakult e nem de caneta vagabunda. Só seu, com uma pedra enorme queimando o dia inteiro. Nada teria fim. Nem a pedra, nem os cigarros. Só a alegria do crack habitando seu corpo, expulsando seus piolhos e os olhares curiosos. Seria o Rei Midas do Crack. Seu olhar não é mais preocupado, a cabeça não roda atrás de mais uma alternativa. Sonha ali no ponto de ônibus. Sonha acordada até que os piolhos tiram-na de seu devaneio. Coça a cabeça, olha para o chão, para o ônibus. Acaricia o cachimbo dentro do bolso do casaco imundo. Vazio. É hora de um pouco de realidade, a vontade faz ferver todas as suas veias e explode no vazio da cabeça. Mais uma dose, é chegada a hora.

Ouvindo: Titãs - Bichos Escrotos

Dos tempos de ditadura... Uma receita para vocês

Reza a lenda que nos tempos de ditadura os jornalistas preenchiam o espaço da matéria subsersiva recém censurada por uma receita. Era assim para os leitores perceberem que haviam sido impedidos de ler algo que seria-lhes interessante. Como não conto como foi a lua de mel, mando uma receita para preencher o espaço, ok?

Costeletas ao molho de Dijon

Ingredientes:

uma costeleta de porco de aproximadamente 1 quilo
1 pimentão vermelho
2 cenouras grandes
1 cebola
2 tomates
4 colheres de sopa de mostarda de Dijon (é caro, mas rende batsnte. Recomendo a marca Casino, vendida no Pão de Açucar e Extra)
150 ml de creme de leite
limão
sal
pimenta do reino
azeite

Preparo:
Faça um tempero com o suco do limão, pimenta do reino, sal, azeite e 3 colheres de mostarda. Tempere a carne e os legumes, exceto o tomate. Deixe marinando por uma hora (ou quanto tempo tiver disponível). Leve ao forno pré aquecido a 230 graus por uma hora, em duas etapas. Enquanto isso, misture o tomate picado em pedaços médios com o creme de leite e o restante da mostarda. Junte a mistura à carne após meia hora de assamento. Coloque de volta no forno e espere a outra meia hora. Está pronto.
Como a mostarda já vem com sal, recomendo cuidado com a quantidade de sal no tempero, ok?

Se alguém fizer, depois me conta como ficou, ok?

Ouvindo: Les Amants de Saint Jean - não sei quem canta

Monday, March 10, 2008

Casei!

To indo agora para a lua de mel.
Depois conto como foi.
Sem detalhes.

Ouvindo: Mutantes - Minha menina

Friday, February 22, 2008

São Paulo e o centro

A indisposição é vencida pela vontade de alcançar a Liberdade, a ressaca não iria impedi-lo de fazer a caminhada da República até o bairro japonês. Distraído, não conseguia focar em coisas específicas em meio à bagunça. Balançava a cabeça para um lado, esbarrava o olho em um mendigo que jazia na calçada. A bunda meio coberta, meio à mostra, mas nada que atrapalhasse seu merecido sono. A cabeça pende para outro lado e concorda em prestar mais um pouco de atençâo ao que lhe cerca. A conferida na carteira, um leve toque no bolso de trás da calça, só um pequeno ritual para certificar-se que continuava repelindo mãos maliciosas que insistem em tomar dos outros o que lhes é precioso. Nesse momento a cidade pareceu dividir-se em áreas restritas, dominadas por atividades e atores que dominavam e aproveitavam ao máximo a posse, mesmo que temporária e indesejada por muitos, daquela parte que um dia respirou ares de nobreza. Seguindo pela Barão de Itapetininga, sonhos de emprego estão perambulando pelo calçadão, em forma de homens placa, em agências de emprego a céu aberto, em postes que anunciam vagas para todos os gosotos, necessidades: recepcionistas, vigilantes, pequenos homens engravatados são procurados por escritórios de advocacia, comunicadores com carro próprio têm vagas garantidas no centro da cidade. Os homens placa andam pra lá e pra cá, repetindo mantras indecifráveis, comprando ouro, vendendo documentos, consultas médicas. A cabeça gira sem obedecer ao corpo que pretende andar rápido, em linha reta, sem prestar atenção aos vendedores de crédito, jovens empregados de primeira viagem que pegam-te pela mão e tentar convencer aos homens que usam sapato que os sonhos estão ali pertinho, a juros baixinhos e super condições de ressarcimento da dívida. Como é bom andar de tênis, calças velhas e camiseta, totalmente fora do público alvo, que é caçado pelos vendedores, sempre de cabeça baixa, procurando no povo os sapatos, a cara de pai de família, o olhar sofrido de quem precisa de um amigo que pague suas dívidas. Os vendedores dividem sem problema o seu espaço com os vendedores de DVD, o pesadelo das locadoras, que dão ao homem comum a opção de possuir um filme pagando menos do que é cobrado para tê-lo por um único dia em sua casa. O Viaduto do Chá reserva sua elegância para as mulheres que fazem contao com outra dimensão, escondidas atrás de guardaçóis e sombrinhas, dão privacidade a quem quer saber antes da hora o roteiro de suas vidas. Búzios, cartas, mãos, qualquer outra coisa serve de meio de comunicação entre o passado, o futuro e o presente e para isso, senhoras que acreditam em muitas coisas desembolsam pequenas cotas a troco de informação privilegiada. A Praça da Sé, por mais quadrada e espaçosa que pareça, também está dividida em nichos de trabalho ou da falta do mesmo. Ao fim da Rua Direita estão as ciganas, que preferem vender os serviços de vidência em pé, chamando a clientela com um sincero e grudento aperto de mão. Será que aprenderam a técnica com os promotores das lojas de crédito? Ao lado estão os sapateiros, desalojados de seus endereços, oferecendo engraxadas, meias-solas e trocas dos saltinhos altos que perdem-se em meio aos buracos das calçadas. Homens pregam sua fé, repetitivos e indecifráveis, com seu olhar fugidio, sendo questionados por outros homens que não dividem os mesmos dogmas. Apoiados por irmãos que gritam aleluia. Alheios aos momentos de salvação na Terra, os "perdidos" permanecem sentados nos bancos à esquerda da Catedral, formando famílias temporárias, laços perdidos no meio da confusão paulistana ali são reatados, momentos ou dias intermináveis são dividisos entre amigos que olham para o infinito, numa improvável reunião em torno de merda alguma. ?Um trio de homens que tocam forró tenta a sorte e algumas moedas, com camisas floridas, em verdes gritantes, mas, assim como acontece com a menina-boneca-estátua-viva, as moedas não vêm, não há dinheiro disponível na praça para ser gasto com essas coisas de arte. Mais um homem placa anda pra lá e pra cá, ao lado da igreja, vendendo qualquer coisa que alguém queira comprar, repetindo coisas sobre ouros e dólares. A avenida Liberdade aparece logo após a praça João Mendes, onde pode-se comprar bonitas flores a preços justos, prenunciando um mercado de mulheres de corações vagos, que alugam seu amor em quartos apertados, por hora, por tarefa, por noite, mas que sonham em doá-los um dia para alguém que saiba amar pura e simplesmente, como o verbo intransitivo que é. Piscadela, a mulher tem calças apertadas e um olhar lânguido, um tanto forçado, quem sabe, até, vulgar. Não, ainda não é o serviço que procuro, mas agora sei bem onde procurar por cada coisa naquele centro. Uma senhora atravessa a rua correndo ao meu lado, com passos e aquele sorriso de quem um dia sonhou em ser uma gueixa. A cabeça faz sinal de positivo, o destino está chegando. Enfim, japoneses vendem cogumelos baratos em seus mercadinhos de produtos indecifráveis. Uma bandeja basta por hoje. Uma latinha de chá de leite, iguaria vinda de Hong Kong de sabor agradável, mas que requer uma segunda chance antes de tornar-se tão agradável. Pronto, a caminhada chegara ao fim. Enfim achara o que queria, torcendo para que o centro continue a exisitir daquels jeito, com seus clientes e vendedores para tudo, e para todos.

Ouvindo: Ez3quiel - Requiem

Monday, February 18, 2008

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Achava que nunca teria dificuldades para escrever sobre qualquer coisa que fosse, ainda mais escrevendo assim, desse jeito, um jogado de palavras na tela, sem pensar muito na palavra que vem em seguida, sem saber se o que vem escrito antes está grafado corretamente, sem prever o final de algum personagem de antemão, fazendo disso tudo um exercício de fluxo de pensamentos a serem registrados e publicados para quem quiser ver, ler ou passar adiante.

Acordara naquela dia disposto a registrar tudo novamente, num vômito de palavras que falavam sobre sensações, histórias e personagens mal digeridos durante os tempos que passara sem escrever. Sentara-se ao posto de escriba, disperso por janelas laranjas que piscavam em sua barra de ferramentas. Queria contar sobre o cinema, as aulas que tivera com os filmes de catálogo assistidos com atraso. Queria passar para quem quisesse ler as sensações que tivera ao ver o pessoal de Dogville. Descrever com exatidão os paralelos que traçara com a sua vida, com seus amigos suas famílias. Criar para seus leitores uma Dogville encravada no interior de São Paulo, de onde pessoas amedrontadas haviam mandado-no embora há anos atrás. Desejava imensamente transmitir o choque ao ver pessoas conhecidas dentro da tela de TV atuando em Requiem para um Sonho.

Deixara de se sentir tão especial, levara fortes tapas na cara ao ver que coisas que acreditava ser ou viver eram tão comuns que hoje não passam de roteiros de filmes bem vendidos. E o problema é que nada saía para a tela do PC, o pensamento se confundia com outras histórias, outros capítulos que teriam de ser contados separadamente, mas que, em sua cabeça, eram todos conectados, causais e consequentes. Nada saía que valesse a pena ser contado. Resolveu parar o trabalho e voltar para a observação.

Tamborilava com os dedos na mesa, tentando fazer com que aquela corrente de palavras voltasse à sua mente. Não vinha, a solução era essa e não tinha mais volta. Faria como os diretores de cinema fizeram com ele durante todo o fim de semana. Decidir que naquela hora toda a história chegaria ao fim, quer o espectador esperasse, quer não. Seria só colocar um ponto final, um derradeiro, mas que viesse após uma frase que desse aquele efeito de fim. Sabe quando o homem sai andando pelo parque, a câmara afsta-se do personagem e sobem os créditos? Ou quando os dois mocinhos libertários são assassinados sem motivo por dois caipiras desconhecidos? Aumenta atrilha sonora, sobem os créditos. Mas não seria naquele dia. O tempo de escrita já se tornava um recorde. A contagosto, aperta o botão do mouse no botão que tornava o texto irreversível. Uma breve visualização, efêmera como o que ali ficara registrado. Gira a cadeira. Deixa o computador para trás, sem olhar para trás. Caminha em direção ao quarto. Sobre a trilha sonora. Sem créditos.

Ouvindo: Jackson do Pandeiro - Chiclete com Banana

Sunday, January 20, 2008

Os antidepressivos vão parar de funcionar

Assim como a cola de sapato, que foi castrada de seu ingrediente entorpecente e o B 25 que não é mais vendido nas casas Plástitécnica, os antidepressivos, também conhecidos como Lexotan, Prozac, Rivotril, Riverol e Reforterol perderão todos os seus princípios ativos a partir de janeiro de 2038.

O assunto gera discussão severa entre os usuários, que reclamam o seu direito inalienável de acesso à cura dos males modernos. O lobby das emissoras de TV deve pesar em favor dos usuários. Globo e SBT já entraram na briga e seus lobbistas em Brasília acreditam que o prazo para a eliminação das susbtâncias deve ser, a curto prazo, estendido em pelo menos mais dez anos.

A Record permanece fora desta briga após a derrota sofrida na Câmara dos Vereadores, quando o canal defendia a manutenção do tolueno na cola dos cidadãos paulistanos.

Os membros remanescentes da Organização Não Governamental e Sem Fins Lucrativos, a CANSEI! apoiou os discursos de Fausto Silva e Diogo Mainardi, divulgados nos principais media dominicais.
"Estão falando em alterar toda a programação de um domingo, meu, tá loco", defendeu Faustão durante o quadro "Dança Comigo".

Diogo Mainardi, opinionista de Veja!, vais mais além nas alfinetadas, em coluna entitulada "Alguém roubou o meu Prozac": "... o governo dá mais uma mostra de crueldade, depois de sacrificar a classe das ruas e os universitários. Porém, é cruel querer tirar de um pai lutador o direito de viver em paz com a sua consciência, de realizar a sua terapia. Se ainda fossemos, como diria sabiamente o Capitão Nascimento, muleques, tudo bem. Mas recebi crueldade suficiente da vida para saber discernir o que coloco em meu corpo".

Nas ruas, alertas foram espalhados pelos pontos principais da cidade, da capital e do país com os dizeres, considerados "apocalípticos e agourentos" pela atriz Vera Fischer sobre o fim do funcionamento dos antidepressivos.

Solventes querem voltar ao mercado
A procura por licenças para a compra de inalantes subiu nas últimas semanas após o aviso que os antidepressivos vão parar de funcionar. A iniciativa surgiu entre os donos de lojas de Construção, Bricolagem e Materiais Químicos, que reclamam da perda de freguesia após a proibição da venda livre de solventes.

A tríade pretende cadastrar os potenciais compradores de colas e solventes, oferecendo descontos e planos de fidelidade, além de opções de importados que chegam ao Brasil em estado bruto. A promessa do fim dos antidepressivos também anima a indústria, que investe no marketing a longo prazo do produto.

A estimativa é que em 5 anos as empresas voltem ao mercado de drogas, com produtos aromatizados e embalados individualmente. "Seria da hora, tio", respondeu um usuário ao saber da promessa do retorno dos inalantes.

Ouvindo: Caco e Seus Amigos - Cafezitos