Se você ainda não é membro do couchsurfing, não conhece ou nem faz idéia do que seja, não comece a ler o texto. Entre no site e saiba do que se trata. Resumidamente, é um projeto de troca de hospedagem gratuita entre pessoas do mundo inteiro e o que tornou minha viagem tão barata, interessante e inesquecível.
Nunca gostei de fazer programas turísticos. Acordar no hotel antes das 10h30 pra pegar o café da manhã, pegar uns folders na recepção e sair pelas ruas em busca dos pontos recomendados por sei lá quem que acha que a Catedral de Rolmsternem e o Museu John XXII são o que há de melhor em sua cidade. Depois desse passeio, todo feito táxi, conduções fretadas ou os incríveis ônibus de dois andares, um almoço bem caro em algum restaurante também recomendado, com menu em inglês, francês e italiano (além da língua nativa). Pela tarde um passeio a pé, porém estritamente demarcado e acompanhado de mapa para que não exista o menor risco de se perder. Um chá em mais um bar turístico, volta pro hotel, jantar e talvez uma discoteca recomendada pelo recepcionista, o qual nunca pôs os pés na Jungle Fever nem na Raimond 45. Junte-se a isso uma câmera bem grande pendurada no pescoço, camisa do Brasil, de preferência de algum jogador como Kaká ou Ronaldinho. Como está frio, todos os casacos mais chiques que talvez nunca mais terá a chance de usar.
Conseguiram me visualizar nessa situação? Aí é que entra o tal do couchsurfing. Confesso que no começo não botava muita fé na parada, parecia meio comunista demais pra mim uma pessoa oferecer um lugar na casa dela pelo simples prazer de hospedar. Desconfiava que fosse meio doutrinário, como uma seita e durante a estadia apenas nos reuniríamos para discutir em torno de nossa fellowship. Ou seriam verdadeiros chatos que nos receberiam, enchendo a estadia de regras e passeios chatos. Nada disso. Existem pessoas no mundo que estão dispostas a compartilhar seus espaços, sofás, colchões, armários, banheiros e geladeiras pelo simples prazer de fazer contatos pelo mundo, conhecer culturas distintas, contrastar diferentes pontos de vista sobre acontecimentos globais. Já parou pra pensar qual a opinião de um sueco sobre o futuro de Cuba?
Além disso, é possível conhecer os hábitos dos nativos. O que os dinamarqueses comem no café da manhã? Quais são suas aspirações profissionais? Posso dizer que conheço muito dos três países diferentes em que fui recebido por membros do couchsurfing do que vários estados brasileiros que conheci turisticamente. Os caras te recomendam coisas que eles conhecem e aprovam, sem rabo preso com empresas de city tour, restaurantes da moda e coisas do tipo. Com esse tipo de guia turístico é possível conhecer lugares mais autênticos, bares frequentados por nativos e imigrantes, que não servem espaguete para agradar a todos e nem tem menu em inglês. Vamos falar um pouco sobre quem são essas pessoas:
Evelina e Andreas - Malmo - Suécia
Sabe aquele casal maluquinho da sua escola, o cara e a mina sempre de preto, alguns piercings e o gosto comum pelo hardcore ou coisa que o valha? Pois é, na Suécia eles podem casar e levar uma vida muito boa, arranjar um apê, decorá-lo, enchê-lo de CD´s, discos e livros, encher a geladeira e os armários, videogame, gato e etc, tudo isso sem mudar muito o estilo de vida adolescente. Evelina trabalha meio período como enfermeira e Andreas trabalha algumas vezes ao mês no turno da noite dos correios. Fomos recebidos na terça-feira e apenas deixamos as malas em casa com destino ao bar de estimação do casal. Lá conhecemos a cerveja sueca e Magid, um imigrante iraniano que morou em Madrid e que quase chorou quando Cróvis disse que conhecia o bairro de Leganez. "I have a daughter in Leganez...". Voltamos pra casa, esticamos a balada na cozinha, atacamos a geladeira.... Pena que ficamos pouco por lá.
Rasmus, Morten & Rasmus - Copenhague - Dinamarca
Rasmus é auxiliar de cozinheiro e foi nosso host oficial. Acontece que ele tinha que ir ver a família no dia 24, data na qual Bigode seria jogado nas sarjetas dinamarquesas. Morten, que também é ajudante de cozinheiro, resolveu nos acolher por mais uns dias e, de brinde, acolheu Tato e Cróvis em sua residência. O primeiro Rasmus foi o responsável pela nossa entrada na "Operação Mendigo Infiltrado" e o segundo Rasmus é irmão de Morten, adolescente, cabeludo e com cara de chapado. Sonha em ser mecânico, mas não é engenheiro mecânico, é só mecânico mesmo. Aposto que vai ter uam vida calma e segura. Segue uma receita imperdível de massa aprendida durante essa estadia:
150 g de bacon
150 g de cogumelos
1 beringela
100 g de cream cheese
cebola, alho e sal
*essas quantidades foram todas chutadas para dar mais credibilidade. Coloque o quanto você quiser de cada ingrediente, pique bem pequeno e refogue separadamente os ingredientes. Junte tudo e adicione o cream cheese, cozinhe por uns dois minutos e sirva com a massa de sua preferência.
Catherine - Naestved - Dinamarca
Chegamos na casa da garota e todos estavam assistindo Senhor dos Anéis III, aquele que não tem fim. Depois do filme, não tiveram muita disposição pra passear com a gente, mas nos deixaram a vontade para cozinhar e beber durante a Terça Cerca Frango. Destaque para o passeio pela sala de calcinha.
Haina - Bruxelas - Bélgica
Depois de algum tempo passado em quartos apertados, hospitais abandonados e casas de primos de amigos meus, voltamos pra o lar de nossos amigos couchsurfers. Tá certo que a Haina era do Hospitality Club, mas dá tudo na mesma. Chegamos em Bruxelas às 6h da manhã e ficamos na rodoviária conversando com mendigos poliglotas só pra dar um tempo e não chegar em casa alheia antes do sol nascer. Lá pelas 9h fomos pra casa dela e ela nos atendeu com voz de sono e mil desculpas pela ressaca. Devidamente recuperada, compareceu ao jantar e guiou-nos durante um passeio por um mundo de cervejas diferentes e exóticas. Na manhã seguinte ofereceu o melhor café da manhã do mundo, fez sanduíche pra viagem e levou-nos em seu mini-carro até a estação. Se eu não tivesse mãe, pedia pra Haina me adotar.
Tato e Cróvis - Madrid - Espanha
Meio chatos, não tomavam banho e nem levavam para bares legais. A minha única decepção com o Couchsurfing.
Nem tudo são flores. Mas digo que o Couchsurfing entrou para o panteão de montros sagrados da internet. Temos o oráculo (google), o Couchsurfing e a televisão (youtube). Em uma ideologia católica, o pai, o filho e o espírito santo. O filho é jesus. O Couchsurfing é jesus. E os hóspedes somos nozes.
Ouvindo: Lou Reed - This Magic Moment
PS:Tô muito triste com o blogger. Tive que reescrever partes desse texto três vezes, não consigo colocar link ocultos sem correr o risco de travar tudo, além de outros problemas. Pau no cu de quem resolveu mudar as coisas por aqui.
O que é “puxa saco”?
10 months ago
7 comments:
Então você deu um passeio de calcinha pela sala?...credo!...hehehe...me passa o endereço dessa mina aí então...
Ah...e eu te avisei desses tal de "Tato e Cróvis"...como você pode achar que uma dupla dessas ia te acolher bem!?...hehehe
te cuida aí, mano...e aquele abraço!
Oi! Por um acaso eu tenho algum mérito em ter te apresentado o couchsurfing ou não fui eu? Não me lembro se te contei da minha experiência em Edinburgh, na casa de uma americana-judia-hippie, em meio às nossas conversas sobre viciar em café e coisas assim... Se cuida, mino! beijinhos
Pô, Bigode, falar mal do Cróvis beleza, o cara é meio boizao e tal, esquece dos amigos. Mas o brother aqui passeou bastante com vcs. Eu diria q vc conhece madrid melhor do que muito madrileño. Destaque especial para o bar de Jerez, Melo´s bar, bocadilho das estremeñas e o por do sol no templo de Debod.
Abs
Gugu,
Fica bravo não, era brincadeira. Você foi o melhor host do mundo, mas se eu falasse isso perdia a graça, cariño.
Hehehehehe... to bravo nao, só pra constar! Abs
Eu, na minha imensa ignorância, jamais imaginei que isso pudesse ser possível. Já ouvi falar nessas hospedagens para alunos de intercâmbio, mas abrigar viajantes é fantástico.
Sem falar em Tristão e Dé, em braga, que humildemente cederam suas camas para nos abrigar.
ps: jerez dá uma dor de cabeça do caralho!
lulo
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