A luta com as palavras continua, de vez em quando se acalma, freia, de quando em vez acelera em descompasso. In-formação, em formação, uma coisa que toma forma, cristaliza no meio dessa massa mole que mexe sem cessar. Hoje em dia a informação está muita, coisas boas, coisas médias e ruins, tudo em formação. Cada um tem seu deus pra chamar baixinho, chorando na cama. Allen Iverson é meu deus. "Practice... we talkin' 'bout practice. Not the real game, we talkin' 'bout practice". Tá dada a informação, meu deus se chama Allen Iverson pois ele jogou na minha cara a iluminação, a gente veio no mundo pra perder tempo e falar sobre assuntos anexos à vida de verdade, que vai passando, the game, e o que anima as conversas é o treinamento. Deus, ajuda eu a consumir tudo isso e acreditar enfim que, na verdade, deus está em mim. Muita informação, já tinha dito e repito pedindo desculpas pois para ti não deve estar nada fácil de puxar um fio que dê sentido à tua leitura. Faz-se míster de voltar ao começo, mas no começo tem uma outra oração, outro deus, que canta que é "necessário voltar ao começo, não sabe pronde ir, tem que voltar ao começo. O filho da dona Jacira, o Leandro, também é deus meu, última vez que orei pra ele eu tava na praia e a cura caiu dentro de mim no fim da mixtape. A última música dessa fita é da pesada, bate, faz chorar, cura. Ora que melhora. Melhora porque lembra que deus é nóis mêmo, é a rua, a multidão, pode procurar por todo o lado e só vai achar quando perceber que mora dentro de ti. A capacidade de criar, de cultivar, de amar, respeitar, partilhar, o carinho, o ar, o fôlego, o sopro divino, a onipresença, onipotência e a onisciência existem, de verdade, e o poder é teu. Pega a em formação, transforma em informação, digere a porra toda e seja teu deus. Escreva textos estranhos, escale muros, piche paredes, corra, grite, ame, nade. Seja. Não há treinamento, só o jogo de verdade. Aqui, agora. Gil Gomes, tá aí mais um anjo caído, travestido de graça e gravidade que veio na terra pra sacudir cada um de nós com a frase mágica: aqui, agora. Palavras são o meio que tenho pra tentar colocar em ordem o caos que habita eu. Aí saio de casa pra rabiscar nos muros, hoje era propaganda de banco dando cartão de graça pra criança, com foto de criança contente por causa que ganhou um cartão de crédito pra ir no cinema e não na zona. Olha as palavras, elas representam o mundo que chamamos material. Voltaram. Tou experimentando e bebendo cervejas belgas com um mano que quer que eu seja seu sócio. Escrevo ao vivo, a menina vizinha minha de balcão oferece-me um café. Vou parar de escrever um pouco, paz. Amanhã volto.
Ouvindo: Buraka Som Sistema - Wegue, Wegue
