Saturday, July 26, 2025

Minha lista de vontades número dois

 Ver-te, sentir-te, olhar-te, tocar-te, sorrir. Repetir tudo isso na mesma ordem ou aleatoriamente. Rir. Agradecer à vida. E, mais uma vez, obrigado.

Respirar teu sopro por um longo momento. Olhar a tua pele de perto, acariciar o teu cabelo, há uma energia e um cheiro de felicidade no teu cabelo. E essa energia também está nos teus olhos. Quando olho para ti, pergunto-me se vês em meus olhos o mesmo que vejo nos teus. Acho muito bonito o que vejo, assim como o que ouço, acho muito bonito o que a minha pele sente e o que faz ressoar o meu coração, a minha cabeça e a minha alma quando me tocas. Muito bonito. Estamos aqui para falar dos vvontades, é uma lista. Ouvir tua voz, tua respiração, tuas inspirações, o timbre da tua voz, a inteligência, a delicadeza e a humanidade que colocas em tuas palavras. Quero ouvir-te falar, gritar, rir, até chorar, se o coração assim pedir. Quero contar quem é o menino que habita este corpo. Quero saber de onde vem a mulher maravilhosa. Quero sentir teu cheiro, em todo o lado, que fique colado. Quero abraçar-te e sentir-te segura, relaxada, tranquila. Também um pouco excitada, langorosa . Conecentremos-nos na lista: vejo-te, sinto-te, ouço-te, respiro-te e desejo-te. Quero ser o teu amante e que possamos pensar um no outro como um presente da vida. Quero nunca esquecer que somos inteiros, nem esquecer de ser assim. Quero que as nossas conversas não mudem: claras, abertas, inteligentes e amorosas. Tenho vontade de lamber tua cara de novo, quero olhar nos teus olhos e contar o amor que a minha alma sente pela tua. Quero que sejas feliz, livre, desperta, presente, magnética. E tu já és. Quero pegar na tua mão, entrelaçar os meus dedos nos teus. Agora quero beijar-te, podemos?

Ouvindo: Abstrakt Keal Agram - Mata Hari


Publié suite à ma liste des envies numero 1. Leus deux textes sont originaux en français. La traduction a été faite par un ordinateurnet moi même



As relações mediadas por palavras...

 ... devem, em algum momento, se calar. E o primeiro passo pra essa brincadeira começar é aprender a mandar elas calarem a boca. Na moral, sem brusquidão, mansinho. Cala a boca. Pode botar por favor, pede direitinho. Calou? Agora aconchega-te no teu lugar, abre os olhos, o nariz concentrado, a pele à flor dela mesma. O tempo deve desacelerar, o tempo é teu, bota areia no mecanismo do Rolex e absorva tudo o que a cena mostra. Tua sobrancelha esquerda levante muito quando falas sobre jeitos de enganar teu desejo. Tua boca enrijece-ce. Ouço mais bemóis que notas naturais. Tenta convencer-me de que queres o que não queres, os ouvidos estão desligados. As palavras são bonitas, intencionais, encadeadas, lógicas. Mas elas estão agora caladas e é em teus lábios que concentro-me e eles não estão de acordo com tua boca. Teu peito tampouco. Difícil olhar e ficar concentrado, a mesma coisa vale para a boca, teus dedos que se emaranham em teu cabelos. Concentra-te, olhas as palavras voltando pra te atormentar. Sente o cheiro da cena, é bom. Muito bom. Tu dizes que fede. E se eu mexer nos ponteiros do Rolex cheio de areia, posso ir direto pro momento, dias depois, quando dizes que na verdade, o cheiro é mais que bom. Então aqui provamos que a boca e o coração não chegaram a acordo. Se um dia chegarão, não saberei. Era o cheiro de nosso amor que estava ali, quente, colante, gostoso. E as palavras vem, jogam o cheiro no lixo, dão a descarga e a coisa fica lá, guardada naquele tempo, mas impossível de guardar pra sempre. Seja surdo, seja herói. Seja mudo, seja deus. Eu olho tudo, analiso, engulo e hoje meu pedido pro papai do céu é de aprender a cuspir. Ah não, vamos descer logo do carro, senão a gente ainda vai se beijar durante 5 minutos. Senão. A metade dessa palavra é "não". Não beija-me. Não beijo-te. Não nos beijemos, não nos beijamos, não vou beijar nunca mais. Quando te esforças para abandonar teu corpo, a palavra esforço está lançada. Ex-força. Aquela velha e antiga força que aparece pra te assombrar e que manda teu corpo calar a boca. E a boca insiste no esforço. Levanta a sobrancelha, coça, faz careta, nariz franzido e a boca lá de boa, só contando coisa sensata. Vai mudar. É a primeira vez. Na verdade, quero. Mentira. Inocente, bem intencionada, provocante, sensual, convincente mas ... mentira. Também conto várias. Calemos então essas palavras. Voltemos a falar quando as palavras sejam compostas de uma intenção que tua alma aceite. As palavras são presentes que oferecemos um ao outro e oferecer é uma bela palavra, cheia de intenção. Pega a palavra, bota um laço vermelho em volta, embrulha, pega com carinho, olha no olho e faz a porra do gesto de oferecer. Os braços vão pra frente, o olhar não vacila, o sorriso brota , o outro estende a mão, pega, desembrulha, olha o laço, os enfeites, o presente. Lembra o dia em que oferecemos livros um pro outro? Então...


Ouvindo: Queen - Don't Stop me Now

Monday, June 16, 2025

O inferno e a importância dos dentes

Eu devia estar feliz por ter quase todos meus dentes na boca, pelo fato de meu coração bater de dia até à noite, sem pausa. Braços, pernas, cabelo na cabeça, tudo tenho. Cabelo tenho até demais. Porém... Tem algo que foge, eu corro, procurando e segue fugindo. A cabeça não tem razão alguma em tentar copiar o coração em seu trabalho incessante, peço que dê -me um respiro. Pois esse é trabalho do pulmão, que tenho dois. A cabeça não dá trégua, remói sensações e tenta até mesmo tomar a função digestiva de minhas tripas. As tripas sentem também, ficam ora moles, ora encrispadas e não dá pra saber de jeito algum quem controla quem nessa agitação. Gente que vai dormir emburrada acorda ainda mais. Entretanto, o plano não é esse, é bem mais simples. Vai saber por que é tão raro comunicar. Falo de comunicar quando um fala, o outro ouve. Após ouvir, escuta, responde, pergunta. O comunicar quando não tem ouvidos deixa a gente emburrada. Malditos sejamos todos com essa impossibilidade de abertura que leva-nos a acordar mal. Quem acorda mal fica mau. Sonho com um mundo onde damos-nos conta de nossa insignificância e abrimos mão da violência protetora de nossas fraquezas. É pesadelo. Acordo emburrado e mau, protetor de mim mesmo. Tarde demais pra reparar, o outro não consegue tampouco reconhecer o mal. O tempo passa, rápido. Os dentes vão amarelando, amolecendo. Os desejos união são apenas palavras, pois o que importa pra cada um é salvar sua pele, desafiar o destino para um duelo perdido, esquecendo que a morte não liga pra ameaças. Para-se de viver para dar razão ao tempo, que leva tudo embora. Ficam as lembranças, que como os dentes, tornam-se cada vez mais amareladas, amolecendo. O homem está emburrado, a mulher também. E o tempo, sentado em sua cadeira, fingindo ser o personagem mais paciente de nossa história, ri de nossa desajeitada maneira de existir. Sinto tua falta. Também sentes a minha. O tempo sabe disso e não oferece ajuda pois sabe de sua importância. O tempo não quer saber de caprichos, não quer saber de vaidades, ele só passa e colhe tudo o que temos para oferecer. Eu deveria estar feliz por ao menos ter (quase) todos meus dentes na boca e usá-los pra morder a vida. Mas agora o tempo passou. Estou feliz por ter meus dentes. A vida é um serviço de streaming e minha televisão está bloqueada no canal do inferno. O parceiro com quem dividia a assinatura cancelou, nem falou por quê. Travou a transmissão e cá estou preso. O inferno é um lugar mais simples que imaginamos, há poucos inconvenientes, certo luxo e muitos bons costumes e intenções. O primeiro inconveniente é que todo mundo fala sozinho. A capacidade de escutar - 

a audição enquanto sentido continua a rodar a cem por cento - é totalmente apagada da memória do convidado. "Convidados", assim chamamos os habitantes do local. Os autóctones nomeiam-se "anfitriões" e organizam a prestação nos mínimos detalhes.
O chefe de serviço:
-Anfitrião César, por favor, é hora de servir o convidado Carlos...
-Sim senhor.
De um passo decidido e elegante, anfitrião César passa pela cozinha, pega o prato na boqueta, passa pelo bar de estilo inglês, pega uma garrafa KS de Coca Cola Light, bandeja de prata com guardanapo de linho e parte para o serviço.
As geladeiras não funcionam, a Coca Cola Light é "quente desde sempre e para sempre será", regra criada pelo anfitrião Marcos, idealizador do recinto. Mathias, irmão gêmeo de anfitrião Carlos e primeiro convidado de todos, virou chef de cozinha e criou a regra do prato único, pão com cebola e molho branco. A regra do serviço é clara, anfitrião César, enquanto garçon, deve servir convidado Carlos nas regras da arte e, sobretudo, assistir de perto o convidado comer, guardanapo na mão, para limpar diretamente no rosto do convidado cada migalha e escorrida de molho branco. Assim que o convidado termina a refeição, o anfitrião parte e o convidado retoma o direito de continuar seu diálogo sem ouvidos.
Aqui você fala "bom dia" e te respondem "amanhã". "Te amo", respondem "eu também não". Convidados que acabaram de chegar são vistos às vezes achando engraçado, dias depois a loucura toma conta. E já é hora do jantar. Pesadelo. Os dentes, que servem no inferno pra mascar cebola e serem limados por litros de Coca Cola, devia estar contente por ter guardado quase todos eles. De noite os dentes rangem, chama bruxismo. Bruxa vai tudo pro inferno e fica lá rangendo os dentes por causa da cebola. E elas vem na tua cama de noite pra te lembrar que logo mais é a tua vez de ir beber Coca Light. Cabeça, por favor pare, dê paz. Pulmão, enche de ar de uma vez, tosse engasga, acorda a gente aí. Tripas, calma, tá passando. Leva tempo pra digerir, vai na boa. Mas não se atarde, pois logo mais aparece o anfitrião com sua bandeja de prata e guardanapo de linho.

Ouvindo: AC/DC - Love at First Feel