Há mais de quatro anos no ramo, Vicente nunca havia ouvido um tamanho absurdo, um plano tão frouxo, uma certeza tão amadora de sua parceira:
- É só dar um jeito na parede e tamo dentro. Se eu conseguir fazer a cerca atravessar a parede, tamo dentro. É mole, Vicente, ajuda eu nessa. Eu nunca te deixei na pior, cê sabe, né?
- E você acha que é fácil assim de entrar? Caralho, isso que você propõe é mágica. 'É só fazer a cerca atravessar a parede'. Só. Só. Só isso, né?
- É, seu bobo. Atravessou a parede, tamo dentro. Aí é só aproveitar. Vai ser lindo. Ajuda eu, vai!
- E quanto você acha que rola com a gente lá dentro, Marina?
- Ah, sei lá, uns 10 conto. Fora o material que a gente vai usar pra entrar, né?
- Ajudo porque sou parceiro. Mas não boto fé nisso aí não. Atravessar parede?
- Fica tranquilo que disso eu me encarrego. Só preciso de uma mão pra pegar no pesado. Meio a meio. Topa?
- Tô dentro. Meio a meio, hein?
- Hein!
Uma semana depois, Vicente e Marina tem todo o material à disposição, muito tempo e total privacidade para começarem os trabalhos. Ela toma as rédeas e mete a mão na massa. Esforço, olhares desconfiados. Vicente não bota a mínima fé. Marina sabe que é questão de tempo até a mágica acontecer. Diante do olhar incrédulo do comparsa, Marina faz a cerca atravessar a parede e declara aquela obra de arte terminada. Virariam lenda, teriam seu nome escrito na porta daquele prédio. Vicente reconhece e elogia a coragem de Marina. Não é qualquer um que inscreve uma escultura dessas em um concurso de artes.
- Falei que a gente ia estar dentro? Falei?
- Pois é.
Ouvindo: AC/DC - Soul Stripper
O que é “puxa saco”?
10 months ago
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