-Calaboca! Pega!
Falava sempre baixinho, fechando minha mão, bem maior que a dela, colocando dentro a notinha suada de 5 reais.
-É pra você tomar um sorlvete.
Falava sorlvete, como os mais cultos falam Marlboro. Falava 'cuspião' no lugar de escorpião. Falava que a barata viria 'lember minha boca' caso não escovasse os dentes.
Do alto de seu metro e pouco, com as costas curvadas pela vida, encantadora pela fragilidade, encantadora pela força e alegria inocente de viver.
Pouco estudara, o suficiente para escrever um cartão por ano, em português quase inventado. Sempre do fundo do coração.
Lembra-se sempre, e quando digo sempre, quero dizer sempre mesmo, de quando dava banho em mim. "Agora eu não consigo nem levantar uma perna sua". E ria que ria, sempre um riso alegre e contido com a mão à frente da boca.
-Curuiz!
Nunca disse 'cruz credo' ou coisa assim. Só falava 'curuiz'. E eu amando tudo isso.
Dói, por isso é hermético. Curuiz se você for embora agora. Fica.
Ouvindo: Ratos de Porão - Medo de Morrer
O que é “puxa saco”?
10 months ago