Monday, May 17, 2010

A Virada dos Ladrões

Fértil como a terra preta é a mente do vilão. Esse é o mote de quem não entende como o celular saiu do bolso durante a Virada Cultural. Entra na confusão, empurra daqui, grita de lá e quando bate a vontade de fazer aquela ligação, cadê o celular? Nesse intervalo de um minuto, o aparelho já tá bem longe, chip num bolso, telefone no outro.

'Olha aquele aí, cola nele', um ladrão fala com o outro, o olho amarelo sem muita expressão, a cicatriz na mão, o casaco de quem espera muito mais frio do que está por vir. Cada um sai na festa com um olhar: uns observam as cocotas que passam pela rua tumultuada, outros tão de olho nos moços mais charmosos. Eu tou de olho na movimentação da massa, quem é quem, quem vem lá, dois função. Tem ladrão por todo lado, sempre andando em dupla, sempre mirando bolsos e bolsas, falando baixinho, mirando os alvos. E eles saem observando as vítimas, um telefone aqui, um bêbado de bolso frouxo por lá.

A mente é fertil e cria técnicas infalíveis: o primeiro passa, esbarra no ombro do freguês, que se vira pra ver de onde veio o encontrão. Nesse ínterim o segundo leva a mão leve ao bolso e tira dali o que acha de mais valor. O freguês segue caminho sem entender muito o que se passou até que toma consciência do preju.

Não tou aqui pra reclamar, o que passa na Virada Cultural é nada mais do que acontece no cotidiano. Vários chave de cadeia passam o dia por ali esperando o próximo trouxa que vai dar mole, não tem ninguém de olho, mão no bolso e já era. Quando colocam-se 4 milhões de pessoas num clima de bebedeira descontrolada, acontece um desequilíbrio enorme entre predadores e presas. As presas, fora de seu habitat, são alvos ainda mais fáceis. Para preservar seu habitat, os predadores são silenciosos, atacam sem deixar rastro para aproveitar a superpopulação de indefesos.

A festa acaba, as presas restantes vão pra casa, uns a salvo, outros mais chateados com o telefone querido que se foi ou a carteira que agora entope um bueiro por aí. Os predadores continuam por lá, vagando pelo Anhangabaú, batendo carteiras minguadas dos poucos que passam por ali sem prestar a devida atenção, sempre esperando por mais uma festa de multidões, um blecautezinho que seja, algo que a natureza da cidade ofereça para que os ladrões do centro tenham mais um dia de fartura.

Ouvindo: Racionais MCs - A Mente do Vilão

4 comments:

Anonymous said...

em encontro de vagabundo com vagabundo, o vagabundo que trabalha enquanto os demais vagabundos vagabundeiam sai com o bolso cheio. trabalhar, todo vagabundo trabalha. é só uma questão de escolher o momento -- e, no caso, também a vítima.

Gisele Buendía said...

Assisti a um filme que se chama Pickpocket. Francês. Ensina técnicas incríveis de furto de carteiras e relógios.

lau said...

a gente vai aprendendo a se virar. este ano, o que rolou foi um chiclete (usado, claro) dentro da minha bolsa.

Fecespedes said...

Tomei um prejuzaço no show do Metallica. Suficiente pra dar dor de cabeça, não suficiente pra estragar a festa, pelo menos.