Thursday, October 06, 2011

O sótão e suas lembranças

A primeira coisa que deve-se pensar quando de uma mudança: caso haja um sótão na casa, uma corda é necessária. Imprescindível, na verdade. Assim como abrir as janelas do sótão horas antes de ocupá-lo com a missão de retirar dali tudo o que não seja uma bagunça eterna; tipo de coisa que ali permanece até que a casa seja um monte de entulhos.

Nunca imaginei morar em uma casa com sótão. Qual seria a serventia de tal cômodo? É certo que não cheguei a morar ali, dormir todos os dias, pagar umas contas e tudo mais que faz com que você seja morador, não visita. Mas descobri que, dentre as utilidades de um sótão podemos citar: guardar caixas d'água e restos de construção - aqui queria entender por que tem-se dó de jogar todas as sobras na caçamba ou mesmo doá-las para quem daria mais serventia ao material.

Serve também para ser um local quente em dias de calor e gelado em dias frios. Caso o morador aprecie extremos, tá ali um cômodo aconchegante. E a principal função: estocar de maneira quase definitiva aquilo que você nunca mais vai usar. Exames médicos, diplomas da pré-escola, cadernos velhos, tudo cabe em um sótão quente e espaçoso.

Por serem as ideias fugidias, assim que pensares na corda - extremamente necessária para o caso de mudança em uma casa com sótão - lembra-te de pegá-la: a corda será a tua salvação. Com a corda em mãos, subo a escada estreita, daquelas de filme, que se escondem no teto e devem ser puxadas com uma elegante corrente. Na falta de uma corrente, improvisa-se bem com uma pá de pegar cinzas. Quente. Por que não ter aberto as janelas antes? Enquanto penso, o suor escorre pelo rosto. Era dia de fazer a barba. Sem tempo, ela só ajuda a aumentar a sensação de lugar mais quente do mundo.

Após breve análise, temos um diagnóstico: são 6 caixas grandes de papelão e a maior parte delas era caixa só no nome, não mais apropriadas para carregar qualquer coisa. Entre livros, radiografias, eletrocardiogramas, cadernos, enfeites de natal, correspondências, lembranças, livros - de todos os tipos, diga-se, desde a Teoria do Basketball ao Código da Vinci - encontro muitas traças, que saem apressadas e sem saber pra onde ir quando veem luz depois de tanto tempo.

As coisas ali não tem mais dono. São da casa. São do sótão, na verdade. Os moradores já retiraram todas as suas coisas de dentro da casa. Pelo menos é assim em suas cabeças. Suor constante, que, de tão constante, não me incomoda mais quando escorre pelo rosto. A corda. Ainda bem que eu achei essa corda, viu? Quando criança sempre gostei de nós, dos quadros com todos os tipos de nós do mundo, mas nunca consegui reproduzir nada além do nó cego. É hora de aprender, na marra mesmo. Enrola daqui, aperta de lá, tudo muito seguro.

Ajuda aí embaixo! Pronto. Devolve a corda. Olha esse caderno, olha esse álbum de fotografias. Vejo coisas que tem valor pra mim no meio da bagunça toda. Roubo do sótão alguns de seus tesouros. São meus novamente, alimentarei as minhas próprias traças com eles, ocuparei outros sótãos e caixas velhas. A sacola - outra ferramenta essencial em uma mudança é uma sacola resistente com boas alças - sobe de volta ao sótão. Quem diabos guarda um raio X de 1998? Tem coisas que só quem tem um sótão em casa sabe explicar.

Ouvindo: AC/DC - Shake a Leg

1 comment:

Vivi said...

Hahaha... Adorei!!!!! Ah, finalmente descobri como linkar os blogs, vou colocar o link do seu no meu!!!!!! :) bjinhos