Gilsinho não para de tremer e está todo mijado, além de escoriações múltiplas pelo corpo, cara inchada e sangue seco e craquelado por toda a sua pele. Não se pode dizer que ele se acalma, mas o simples fato de todos obedecerem ao pedido do chefe da cela o deixa menos apavorado. Cocão dá a palavra, num tom relaxado e curioso:
- E aí, irmão, caiu no 213?
- Foi sim.
- Conta aí como foi...
- Pô, como assim. Tô arrependido, já apanhei que nem cavalo...
- Fala aí, irmão, como foi, rebentou a menina na piroca?
- Pois é...
- Então essa vai ser a gozada mais cara da tua vida, rapá. Aê Nelsinho, chega mais, busca a roupa dele lá!
Todos os detentos comemoram em alto e bom som.
Nelsinho é o braço direito de Cocão, odediente como um cão perdigueiro. A 'roupa' é uma calcinha de fio dental, costurada pelos travestis da cela 3, reforçada nas costuras, resistente e rendada. Parece que Gilsinho se mijou mais uma vez. Nelsinho encontra a calcinha embaixo de seu colchão e joga na mão do novato. 'Veste essa porra aí, mermão'.
Cordas de varal, camisinhas, lanternas, é inacreditável a quantidade e variedade de coisas que os detentos conseguem colecionar em seu cotidiano moroso. A família pendura Gilsinho na grade, os pés distantes um palmo do chão. Está preso de frente para as grades, amarrado pela frente da calcinha. 'Nelsinho, tem que lavar esse porra aí, mano'. A ordem de Cocão é cumprida em segundos com uma ou duas canecadas de água na linha da cintura do detento. 'Hoje vamo brincar de poste, moçada. Quem vai primeiro?'
Nelsinho levanta a mão e logo pede ao patrão: 'Posso rabiscar no poste, Cocão?'. Permissão dada, Nelsinho pega a gilete e escreve, começando as palavras entre os ombros de Gilsinho e terminando na lombar:
"Familia 3º DP
Estrupado é diferente
Sem perdão
Rabo da geral"
Enquanto o sangue escorre, Nelsinho se prepara para sodomizá-lo. Enquanto o faz, faz juras de amor eterno à noiva da cela. 'Agora tu é nossa, vai servir a geral aqui. Fica calmo, você ainda se acostuma e gosta, menina'. Os outros detentos fazem um burburinho na tentativa de organizar uma fila. Xeroso, o mais jovem dos prisioneiros, fica de canto, desinteressado da brincadeira dos irmão. Cocão logo vê e ordena: 'Tu é o próximo lá, irmãozim'. 'Gosto de cu de homem não, Cocão, na boa.' 'E quem falou que essa porra ai é homem? Tu é o próximo'.
Gilsinho só se lembra da história até aí e é isso que ele conta para o delegado Matoso, entre soluços e tremedeiras. Gilsinho implora com toda a sua emoção para que seja colocado no seguro.
Ouvindo: IAM - La Fin de Leur Monde
3 comments:
Você definitivamente precisa escrever um livro de contos da cadeia.
Gostei! Só não entendi direito como eles amarraram o cara pela calcinha.
Beijos!
total. vc foi da bandidage na encarnação passada e trouxe esse carma todo aí, kkk... sangue craquelado deu arrepio de aflição.
Tô mais pra Bandeide do Creme que pra Bandido do crime, viu...
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