Depois de uma grande viagem, a vontade aumenta. Vontade que se chama paranóia, levanta da cama, as pernas doem. Muito. Desce as escadas cambaleando e segurando para que as pernas não desistam do peso do corpo. A cabeça começa a trabalhar lentamente e todo o seu espaço é ocupado pela busca da nova dose. Nada como a própria casa para um viciado. Quando estamos longe, não há como reclamar, a parada vem batizada, misturada com coisas estranhas e usamos só na esperança de um dia pegarmos o bagulho purão, que faz cada veia saltar e a cabeça ir a milhão. Segue caminhando pela casa, sem saber direito onde procurar o pó. Merda de dividir casa com outras pessoas, o potinho nunca está onde você deixou na última dose e a tortura enquanto o pó não aparece faz aparecer um sino dentro da cabeça. Achou. O gás. Maldito gás que sempre insiste em não fazer fogo. Cadê um puto de um isqueiro que funcione? Regula. Funciona. Agora vai. O pó tá no esquema. Arruma meticulosamente a pequena mesa com cada instrumento necessário ao pequeno ritual. Só precisa ver a água borbulhar antes de jogar o pó e chegar a alegria. Borbulha, maldita água filha da puta. A vontade faz o olho esquerdo palpitar e o coração segue o ritmo frenético da pálpebra. Como todo bom viciado, preciso de uma dose grande antes de enfrentar a rua. Treme a mão. Treme a perna pesada. A água tá quase. A colher, onde está a colher preferida que há tempos acompanha seu vício? Procura. Acha. Leva até a mesa. A água borbulha. Pronto, o pó tá junto. Precisa só que os dois se encontrem e virem uma só coisa. A dose está pronta. A mão direita treme. A imaginação voa longe. A melhor hora antes de uma dose é a sensação de que dentro em breve estará em um mundo novo. É agora. O líquido escuro e amargo está pronto para invadir meu corpo. Faltou o leite. Pronto. Café também é droga.
Resposta ao post que vi no Don Fernão
Ouvindo: Nação Zumbi - Samba Makossa
O que é “puxa saco”?
10 months ago