o telefone toca e vibra em cima da mesa de vidro.
-Alo!
-Oi filho, tudo bem?
-Tudo bem, pai, e você?
-Vamos levando. Alguma noticia sua mãe?
trocam noticias, palavras envergonhadas e nunca pronunciadas com a firmeza que o assunto exige.
-E no mais, tudo em ordem?
-Tudo, pai, e com você?
silencio. alguns murmurios incompreensiveis
-Acho que esqueci o nome do meu psquiatra - finalmente diz alguma coisa o pai.
-Procura alguma receita, tem o nome dele la - sugere o filho confuso com a situaçao
-é que eu nao me lembro.
toca o outro telefone na casa do pai. o telefone, o telefoooooone tocou novameeeente. a musica de jorge ben ressoa no ouvido do filho, imaginando nomes de psicanalistas famosos para sugerir ao pai. ja tentou o Dr Reinaldo Frias? maldita duvida pra se ter numa hora dessas, foda-se o nome do cara, me da dois comprimidos que eu tou de saida. lembra dos escritos proféticos pixados na banca de jornal, com os dizeres "os antidepressivos vão parar de funcionar". cantarola dentro da cabeça algum som dos Racionais, "paulo acorda, pensa no futuro que isso é ilusão, os proprio preto não tá nem ai com isso não". olha o relogio, desacredita de que horas sao, maldito dr Reinaldo que inventou de esconder o seu nome dentro da cabeça dele, la num lugar enterrado com uma pa de ideia errada. o telefone ainda ta na mao, o ponteiro gira devagar e o nome nao vem. perdera. agora era so esperar pelo tchau.
-O outro telefone ta tocando, vou desligar. Manda um abraço pra sua mulher ai.
desliga. sao 23h46 de uma segunda feira. tempo de conversa:1min12s.
Ouvindo: Abstract Keal Agram - faixa 3 do album "Cluster Ville"