Coça a cabeça, troca o cigarro de mão. Tá no fim, mais uma puxadinha. Troca o cigarro de mão, coça a cabeça com a outra. Fuma. Fuma com força e olha para a bituca. Quase o fim. Olha perdida para a janela do ônibus. Troca o cigarro de mão. Última olhada, o último trago. Joga a quimba na sarjeta. Coça a cabeça, olha perdida e solta a fumaça. O pensamento não pára. Sonha. Sonha enquanto coça a cabeça, que no sonho, não tem piolhos. Os cigarros não chegam aos tristes finais, duram o mesmo que a vontade de fumar. Passa outro ônibus, o olhar continua perdido. Sonha de roupas novas, sem ônibus nem multidão. Acordaria longe dali, longe com as preocupações do fim das coisas. Sonhava sem dinheiro, sonhava com vontade de fartura. Grandes tochas queimando pedras enormes, com cheiro de plástico queimando lentamente em seu cachimbo. O cachimbo era só seu, não era feito de potinho do Yakult e nem de caneta vagabunda. Só seu, com uma pedra enorme queimando o dia inteiro. Nada teria fim. Nem a pedra, nem os cigarros. Só a alegria do crack habitando seu corpo, expulsando seus piolhos e os olhares curiosos. Seria o Rei Midas do Crack. Seu olhar não é mais preocupado, a cabeça não roda atrás de mais uma alternativa. Sonha ali no ponto de ônibus. Sonha acordada até que os piolhos tiram-na de seu devaneio. Coça a cabeça, olha para o chão, para o ônibus. Acaricia o cachimbo dentro do bolso do casaco imundo. Vazio. É hora de um pouco de realidade, a vontade faz ferver todas as suas veias e explode no vazio da cabeça. Mais uma dose, é chegada a hora.
Ouvindo: Titãs - Bichos Escrotos
O que é “puxa saco”?
10 months ago