Tuesday, August 29, 2006

Como surgiu a expressão...

Um homem comum caminhava pelas ruas de uma cidade qualquer, perguntando aos sete ventos:
"Por que apertaram mais ainda esse maldito nó dessa porra de gravata? Aliás, você poderia me dizer de que cor é minha gravata? "

Todos que o ouviam, inclusive alguns dos sete ventos, repetiam a pergunta:
"Mas que gravata?"

E assim o homem descobriu o "nó na garganta".

Ouvindo: Breathe - Prodigy

Wednesday, August 23, 2006

Estória de ninar...

João acordava cedinho todo dia, igual muitas crianças que se vêem por aí. Mas não acordava para ir para a escola, não arrumava seu material nem dua lancheira. Com 7 anos de idade, levantava junto com o sol, ganahva um bom dia irritado de sua mãe, que logo cobrava seu trabalho. Pegava sua mochila e caminhava de barriga vazia até o barraco do Cidão, onde acabava de arrumar seu material de trabalho: pó de 5, pó de 10, umas maconhas e um pouco de crack. Precisava vender pelo menos 100 contos por dia, senão a bronca era feia e dobrada: do Cidão e de Dona Dirce, que esperava pelo filho todos os dias, embalada pela programação da TV.

De barriga vazia, João descia o morro todos os dias cantarolando raps feitos ali na quebrada mesmo, relembrando de estórias contadas pelos seus companheiros de trabalho, tentando esquecer as duras dos "homi" e as surras de sua mãe. Chegava no asfalto lá pelas 7 e meia, todos os dias, e logo encarava a freguesia mais assídua:

-Tem pó de 5 aí, Joãozim?
-Tem sim. Quantos cê vai levar hoje?
-Um só, tá achando que fiquei milionário, muleque?

João vendia e continuava andando pelas imediações da favela, sempre marcando em alguns lugares estratégicos. Às oito sempre vinha aquela madame, lá pelas 9 os tiozinhos que trabalhavam na construção levavam boa parte das pedras e da maconha. Eram seus melhores amigos na atualidade. Não que pudesse dizer que eram seus amigos de verdade, mas eram os únicos que, além de garantirem o sustento de Dona Dirce, ainda pagavam Tubaína e punham um mesclado pro João na hora do almoço. Pouco tempo depois era a vez da mulecada do colégio ali do lado, que sempre fazia uma parada antes da praia.

-E aí João, tá servindo hoje?
Sempre solícito, ele respondia:
-Claro, tô aqui todo dia. Vai levar o que?
-O de sempre, né mané!

João passou duas maconhas e um pó de dez e antes que acabasse de contar a grana, os playboys já tinham sumido pelo bairro, caminhando empolgados em direção a praia. A cota de João estava acabando, agora só faltava aparecer mais uns malucos do bairro para levar alguns papelotes de 10 e duas pedras que faltavam para fechar o dia. E como sempre, todos apareceram e seu dia de trabalho tinha terminado. Quase. João subia o morro agora sem tanto "peso" nas costas, cem reais no bolso e seus sonhos de criança voando em cima de sua cabeça. Passava perto das outras crianças e brincava por alguns segundos, chutava uma bola que vinha em sua direção, mas nunca podia parar e brincar, sem se preocupar com Cidão ou Dona Dirce. Não tinha tempo para essas coisas de criança, e continuava subindo o morro até o barraco de seu patrão.

-Cidão!
-Entra aí, Joãozinho! Como foi hoje?
-Foi legal!
-Acabou tudo? Cadê a grana?
-Tá aí...

João entregava, como todos os dias entregava, os cem reais da cota diária de sua venda. Juntando todos os aviõezinhos, Cidão chegava a pegar 1500 contos só da mão dos moleques. Tirando as vendas que fazia pessoalmente, mais as encomendas que mandava pros bairros, Cidão estava ficando rico. E João continuava pobre:

-Tá aqui!
Cidão estendeu uma nota de R$ 5,00, como de costume
-Valeu hein!

João subia mais uma vez para sua casa, com a sensação de dever cumprido: Cidão garantia seus lucros e sua mãe garantia sua miséria. Exausto, o menono tinha como companhia seu travesseiro velho, o qual abraçava e o embalava em seus sonhos: bombeiro, lutador de sumô, jogador de futebol, qualquer coisa, menos aviãozinho passava pela sua cabeça. Mas logo o cansaço e a leseira do mesclado mandavam embora seus sonhos e um vazio preto tomava conta de sua cabeça. Hora de acordar.

João acorda mais uma vez junto com o sol e de barriga vazia desce o morro. Pega sua cota, arruma a mochila e desce para o asfalto. Os fregueses comparecem na mesma ordem de sempre, como se fosse combinado. A madame, os tiozinhos da obra e os playboys. Mas dessa vez um dos moleques da escola trazia algo que nunca tinha visto, quanto mais pegado nas mãos. Era um livro infantil, cheio de animais e arco-íris, tudo muito sonhado e colorido.

-Deixa eu ver?
-Tira a mão daí, Joãozinho. Cê nem sabe ler!
A mulecada ria nervosa à espera do combustível para a tarde.
-Eu quero só olhar!
-Não pode, você vai sujar.
-Não vou não...
-Vai!
-Pô corta essa, Reinaldo, deixa o moleque pegar o livro.
-Deixo não. Se você quiser eu vendo.
-Quanto?
-O de sempre, né mané!

João nem pensou muito no assunto, logo serviu as duas maconhas e o pó de 10 pros playboys. Queria que eles sumissem mais rápido ainda pelo bairro, enquanto folheava apressado as páginas coloridas e sonhadas. Tentava decifrar o que estava escrito, mas podia também imaginar toda a magia contida naquelas páginas. Gritava, ria e esquecia de seu mundo, no livro ninguém era Cidão nem Dona Dirce. Esquecia do tempo, esquecia dos fregueses, pensava em sua vida e em sua alegria. Ao pôr do sol resolveu acordar e subir o morro. A mochila agora era pesada, peso dos sonhos presos em páginas coloridas.

-Cidão!
-Entra, João!
-.........
-.........
-E a grana, moleque?
-Tá aí, Cidão!
-Tá o caraio. Tem 80 conto aqui. Não sobrou nada na sua mochila?
-É que...
-É o que caraio?

João abriu sua mochila e estendeu o livro. Esperava que Cidão gostasse, entendesse a magia que aquilo lhe proporcionava. Queria que o traficante esquecesse pelo menos por um dia da grana, que sua mãe se levantasse do sofá e arrumasse algo decente pra fazer. Queria que aquele livro resolvesse o mundo, enchendo-o de sonhos e criancice. Queria que aquilo valessemuito mais que umas paradas de droga ou vinte reais ou qualquer coisa. Queria que todos sonhassem como sonhou ao folhear o livro. Apenas queria... Mas Cidão não quis saber. Sacou seu .38 e, do auge de sua loucura, disparou bem na cara do moleque, que caiu ao chão, abraçado com seu livro e com seus sonhos.

-Moleque filho da puta!

Ouvindo: Inocentes - Medo de Morrer (versão Ratos de Porão)

Tuesday, August 22, 2006

Eu e ele

Decidi trancar a porta, a festa seria só nossa. Eu, meu amigo, ele e outra atendente, os únicos contemplados com a festa que teria início em breve. Decidi também arrancar o cartaz impresso em a4 que dizia sobre as penas por desacato e/ou desrespeito ao funcionário público, já que o que estava por vir estava longe de ser um desacato. Seria coisa de primeira, digno de TV e estória de ninar passada de geração para geração de funcionário público. Estavamos prestes a virar folclore, causo e norma de conduta apra o funcionalismo. Meu amigo, já no clima, cuidava das persianas e dos fios telefônicos, que eram arrancados das paredes e dos aparelhos. Quem mandou? Quem disse que ele podia ser tão arrogante, cagando regras para todos os lados? Que podia criar prazos inesgotáveis ao seu bel prazer? Inventar necessidades e apontar obstáculos ridículos? Não posso dar encaminhamento antes que o documento chegue, senhor... Que frase mais ridícula. Repete, seu filho da puta, repete pra eu ouvir você falar isso de novo. Meu amigo se ria todo, meio que sem motivo, pois fora atendido como rei. A outra atendente, a que atendeu meu amigo, não tinha culpa alguma. Aliás, tinha culpa por estar lá ao lado dele sem nunca ter cobrado qualquer posição mais decente. Repete, seu filho da puta, eu quero que você repita que não pode dar andamento. Sua pele negra brilhava de suor enquanto eu o prensava na parede. A mulher estava desesperada, mas meu amigo deu conta da situação com um soco na boca. O sangue escorria pela blusa e a mulher se engasgava com a mistura de sangue e dentes que invadia sua garganta. E meu amigo se ria, enquanto ele tremia com a voz e com as pernas, sem coragem de repetir aquilo tudo que eu pedia. Peguei um pouco de sangue da outra atendente e passei em seu rosto, perto do nariz e pedi que repetisse tudo de novo. Agora ele chorava. Toda sua macheza tinha ido embora pela janela, mesmo que essa estivesse fechada. Não tinha mais certeza de tanta coisa, não conseguia me ameçar com requisitos e autenticações. Sabia que sua vida podia acabar ali mesmo, na hora, sem precisar de fotocópias, nem assinaturas e nem ordens superiores. Seu tempo não era mais contado em dias úteis, ali na minha mão ele podia durar mais 2 segundos, duas horas ou dois meses, mas ele nunca saberia qual o prazo em dias úteis. Toda sua tradição de funcionalismo público escorria em suas lágrimas, enquanto apertava seu pescoço e pedia em voz alta para que repetisse que não podia atender meu pedido. Até que ele desistiu de ser o dono da burocarcia, deisitiu de querer me controlar com seus prazos, requisitos e outras encheções. Arregou:

-Eu dou o encaminhamento assim mesmo. Volta para buscar em três dias úteis, senhor?
-Não quero mais.

Soltei seu pescoço, destranquei a porta e saí, sem tirar o olho dos olhos dele, contando pra ele, em silêncio, tudo aquilo que sentia por suas ordens, desmandos e prazos. Seu olhar respondia que estava tudo entendido. Saí para um almoço tranquilo de terça-feira, no mesmo local de todas as terças-feiras. E sempre que passo por lá, vejo ele perambulando pelas imediações da repartição. De cabelos sujos, pouca roupa e a pele negra brilhando de suor, ele grita para o mundo ouvir:

-Três dias úteis, senhor! Três dias úteis!

Ouvindo: AC/DC - Problem Child

Monday, August 21, 2006

Hoje eu quase escrevi aqui...

quase.

Ouvindo: Guns 'n'Roses - Civil War
trecho: What we've got here is failure to comunicate....

Tuesday, August 15, 2006

O Lula nunca me enganou



*Mestre Cannabis é um personagem criado por Viciado Carioca.

*Clique na imagem para visualizar em tamanho decente

Ouvindo: AC/DC - Inject the Venom

Monday, August 14, 2006

Ontem ria....

Estava no ponto pensando em qualquer coisa, com um sorriso maroto de quem está realmente entendendo tudo que está acontecendo no mundo: o por quê das guerras, as bolsas de valores, por que o avião voa e toda e qualquer dúvida que habita a cabeça de crianças de 5 anos. Sabia de tudo e dava risada. Aliás, não era bem uma risada, sorria com a língua no meio dos dentes e era observado com espanto por velhotas apressadas, que olhavam incrédulas seus olhos verdes(?) e igualmente sorridentes. Entrou no ônibus como de costume e, no meio de todas as suas descobertas, análises e afins, chegou à grande conclusão do dia. A única coisa que o atormentava, que roubava seu sorriso e o brilho de seus olhos estava respondida, publicada em forma de mensagens cifradas em músicas cantadas em um rap primitivo: Gabriel o Pensador é um gênio. Como não tinha pensado nisso antes? A associação com Memê era apenas uma jogada, nada que apagasse sua genialidade. Com sua música conseguia explicar tudo, tudo mesmo. Gênio. Merecia uma visita, quem sabe um autógrafo. Esse sim era um indivíduo, com consciência de causa e músicas sobre o assunto. Precisava encontrar Gabriel, um telefone, um endereço, qualquer coisa. E no meio do pensamento, cantarolava dentro de sua cabeça, com o sorriso de língua no meio dos dentes:

Todos correm atrás de paz e felicidade
Numa procura incessante que faz com que muitas pessoas acabem
Desiludidas, ingenuamente suicidas
Totalmente perdidas
No labirinto da vida
Andando em círculos
Buscando a saída de modo ridículo
E a cada topada nas pedras da estrada
Alguém te observa como quem não quer nada
Você não enxerga, você não escuta, o filha da puta dando risada.
Faça o diabo feliz

Estava tudo respondido, sabe?

Ouvindo: Gabriel O Pensador - Dança do Desempregado

Thursday, August 10, 2006

O mundo feito de marionetes falantes


Faça sua tirinha em Strip Generator: http://www.stripgenerator.com/

*Clique na imagem para visualizar em tamanho decente

Ouvindo: Underworld - Confusion the Waitress

Friday, August 04, 2006

Hora marcada

Era dada a hora. Tava tudo marcado, o doutor tinha acabado de consultar o calendário, não tinha escapatória e o dia era aquele, ponto. Nem mais um mês, nem mais uma hora, nem mais um suspiro. Morreira dali há extatos e precisos 2 meses, no período da tarde, entre as 15h45 e 15h47. Era a única margem que passara a ter na vida, dois minutos, o prazo máximo da variação entre ser e não ser mais coisa alguma. Preocupou-se com a falta de sabedoria para saber o que fazer naquele tempo e o que mais doía era a preocupação com sua filha, alegria única nesses anos de existência. Conhecia seu jeitinho meigo, sensível e alegre e queria aproveitar aqueles momentos conhecendo e aprendendo um pouco mais sobre como é ser maravilhoso.

Decidiu vestir seu pijma e deitar na cama, com um calendário colado na parede e uma jarra d'água no criado mudo. Esperava todos os dias pela visita de sua filha, enquanto tentava bolar planos pra enganar quem o vinha buscar no dia derradeiro. Colocar outro cara na cama e ficar bem quietinho, escondido debaixo dela esperando que não me levassem, que aceitassem o engano e me deixassem quietinho lá. Buscava pelo mundo casos misteriosos de dribles à Morte, sacadas geniais e salvamentos improváveis de moribundos condenados, reunindo-os em um luvro que colocava debaixo do travesseiro. Dizia para a filha que era como uma "programação mental", um arquivo para ser consultado por quem levava seus últimos sonhos para a sua cama.

Sua filha seguia a rotina de visitas, sempre semonstrando um olhar pensativo, de quem sabe dos planos superiores e que faz previsões sobre um futuro que ainda não aocnteceu. E assim acariciava o pai, tentava confortá-lo da dor que estaria por vir, que também não conhecia, mas vivenciava de maneira torturante e crescente com o passar das tardes. Inconscientemente media o corpo do velho, pensava em modelos de caixão e coroas a serem depositadas na memória de seu pai. Cada visita era uma pá de terra em cima do amado. Já o velho perdia-se em seus pensamentos, engolindo quilos de tristeza e ruminando um sorriso que dela tirasse as impressões deixadas pelo doutor. Comunicavam-se pouco, apenas mensagens cifradas espalhadas pelos caminhos e lugares que costumavam se encontrar. Estava condenado: pelo médico, pela filha e por ele mesmo.

Chegado o dia o pai resolveu não abrir os olhos. Esperou que Deus ou o capeta o levassem, ou que mandassem um enviado para cumprir o horário marcado. Eram 15h46, estava na metade do prazo e nem imaginava que horas eram. O vento balançava o calendário, que já estava muito desatualizado praqueles anos de 2009. O tempo não cumpriu sua promessa, nem a promessa do doutor, nem a da filha, e nem a dele. Dizem que ninguém foi ao enterro, apenas um cachorro, um bêbado e o coveiro. Não queria flores, pediu que fossem deixadas na Terra, que precisava muito mais delas do que lá pra onde ia.

Ouvindo: Planet Hemp - A Culpa é de quem