O dia em que conheci John Stuuuuuglia
John Stuuuuuglia nasceu em 1726 no condado de Avignon, na França. Logo em nosso primeiro encontro, fez questão de frizar que seu nome era escrito com 5 u´s, que estava cansado dos erros de datilografia e que, se encontrasse algum erro em minhas anotações, todas as suas confissões seriam negadas e o seu direito de imagem seria resgatado pelos seus severos advogados.
Comecei a viajar pelo mundo em busca de Jonh ao saber que ele era o único e último anão cabeludo do mundo. "Pois é, você já viu algum por aí? Existem anãs cabeludas, mas dentre os anões do sexo masculino, eu sou o único". Falava sem parar de sua condição rara e exótica, sacudindo sua cabeleira loira, sempre perguntando se estava bonito. "Só uso babosa e creme de ovos, fica muito brilhante, né?" Decidi que sempre concordaria com nosso astro para que a conversa fluísse amigavelmente.
Nosso primeiro encontro aconteceu em Barcelona, onde estava participando de um concurso de levitação. Aprendera com monges tailandeses e, de fato, dominava muito bem a técnica. Após a premiação, apresentei-me ao mais novo campeão do mundo:
- Jonh Stuuuuuglia, não é que você é cabeludo mesmo?
- Pois é...
- Mas isso é incrivel!
- Eu sei...
- Mas parece que nem dá bola...
- Eu sei que meu cabelo é pura presença...
Pura presença era pouco a se dizer sobre aquilo. John tinha, no máximo, 1 metro e trinta. Nunca me disse sua estatura verdadeira, quanto mais me deixou medí-lo. Seu cabelo cobria metade de sua bunda, loiro, liso e trançado. Todos os presentes o admiravam e comentavam murmurando sobre a não existência de anões cabeludos.
-... mas o que você quer comigo?
Na verdade não sabia realmente o que queria de John Stuuuuuglia. A procura por um anão cabeludo parecia tão impossóvel que o simples fatos de tê-lo encontrado parecia suficiente. Não sabia o que fazer, nem o que perguntar. Mas comecei falando qualquer coisa:
- O que te traz a Barcelona?
- Você já sabe, você tava aqui quando eu ganhei a medalha...
- Boa! Mas o que vai fazer com o prêmio?
- A medalha tá no meu pescoço. Quando eu chegar em casa vou pendurá-la na parede. Por que?
- Por nada... E depois? Vai viajar mais?
- Não sei. Por que? Tá convidando?
Sem saber mais como enrolar o anão, vi na pergunta a única brecha possível para conhecer mais sobre ele. Sem titubear, respondi:
- Tô. Quer ir pra Eustralásia comigo?
- Pode ser. Vou guardar a medalha em casa e a gente se vê no porto.
Algumas horas deposi avistei John Stuuuuuglia com sua maleta. Vestia roupas de couro, da cabeça, com um chapéu de motoqueiro, tapando parte do cabelo, agora solto, aos pés. Na mão esquerda, uma sacola cheia de ovos e babosa. Era tudo o que precisava para embarcar em nossa viagem. Passagem comprada e passaporte na mão, Jonh Stuuuuuglia e eu rumávamos para meu país querido.
No próximo capítulo: Os perigos de se viajar com um anão cabeludo
Ouvindo: Take a Walk on the Wild Side - Lou Reed
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10 months ago