Monday, November 29, 2010

18 mil barracos e 1 neguinho trabalhador

-Abre a porta aí!
- Só um minutinho, senhor.

Arranca a remela do olho, passa a mão em cima da cabeça e tira bastante fiapo de coberta do cabelo duro. Abre a porta.

- Polícia. Com licença de revistar a sua casa, meu rapaz.
- Pois não - fala como se não tivesse outra opção além abrir caminho e deixar os quatro homens encapuzados e bem armados adentrarem o barraco de alvenaria na Travessa dos Pombos, nº 32.

Zé Roberto tem 16 anos. É preto, alto e magro. Veste bermudão da Conduta e regata Hurley. Nos pés, chinelo de dedo, com os quais nunca sai do seu barraco. Pra sair, Nike e Puma são suas preferências.

- Trabalha?
- Trabalho sim senhor - fala como se isso não fosse nenhum absurdo. Totalmente normal um pretinho trabalhador de dezesseis anos. Os outros homens vasculham o barraco enquanto o sargento Frias segue na enquete:
- Trabalha com que, rapaz?
- 'trego remédio na farmácia lá embaixo e gravo uns som com a rapazeada do funk aqui em cima
- Tem carteira assinada?
- Tenho não senhor - fala como se isso não fosse novidade para o policial, que nunca para:
- Tem passagem?
- Tenho não senhor, sempre fui trabalhador - fala enquanto o cabo Marinho interrompe a entrevista:
- Sargento, encontramo esse walkman e esse dinheiro do lado da cama do suspeito, senhor.
- É walkman não, senhor, é MP3.

Pau. Um soco na cara. O sangue não escorre. O sargento Frias limpa as costas da mão na calça da farda enquanto esbraveja:
- Cala a boca, moleque, cê acha que eu não sei o que que é isso?
- Desculpa senhor - fala como se fosse preciso pedir desculpas até mesmo por existir.
- É teu issaí? Comprou como issaí? Pode falar, rapaz, cê é do movimento, né não?
- Sou não senhor, sou trabalhador, senhor, nunca fui do crime não senhor.
- E esse dinheiro aí, onde você pegou?
- Tô guardando uma merreca pra gravar uns disco, senhor. O dinheiro é meu - fala como se isso fosse mesmo normal, um pretinho magrelo do morro com 1500 reais guardados em sua cômoda.
- Além de vagabundo é mentiroso, rapá. Vai falar onde você conseguiu esse dinheiro não, rapá?
- Sou trabalhador, senhor.

Pau. Outro soco na cara, esse vai direto na boca e derruba pelo menos três dos principais dentes de Zé Roberto. O cabo Mesquita e o soldado Saad voltam de suas buscas pelos barracos.
- Tem esses par de tênis aqui, senhor.

Pau. O terceiro soco na cara - nesse, Zé Roberto não consegue segurar a onda e cai mole no chão. Cabo Marinho aproveita-se e pisa a cara do neguinho contra o chão de cimento batido.

Aos gritos de "para com isso aí, senhor", "pelamordedeus", "sou trabalhador" - falava isso como se fosse normal que a polícia levasse um suspeito com dignidade - Zé Roberto foi algemado, preso e levado para averiguação.

Faltam apenas 18 mil barracos a serem averiguados - quase todos cheios de neguinhos de bermudão e chinelo. Sargento Frias tem um longo dia de trabalho pela frente.

Ouvindo: Emicida - Vai Ser Rimando

Monday, November 08, 2010

Oração para Pai Gerson

Post pago
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Oh, Gerson, olhai por mim pecador
Tomai conta de meus muitos inimigos
Para que eles com nada consigam me atingir

São Gerson, pai de todos os homens
Cuidai para que eu nunca me dê mal
Intercedei frente aos fracos
para que desistam antes do tempo

Gerson nosso, dai-nos força para fingir
Gerson Rei, dai-nos força pra enganar
Gerson Pai, fazei de mim um instrumento
Gerson Deus, fazei de mim sua arma, sua ira e sua vontade

Gerson, que de vosso ensinamento seja eu o arauto
Que de vossa história sejamos nós os maiores defensores
Que ensinai aos ofendidos como nos perdoar
E que os ofendidos ceguem-se ao nos acusar

Oh Gerson, olhai por nós nos momentos mais absurdos,
Gerson, fazei queimar todos aqueles que se coloquem em nosso caminho
São Gerson que estais no céu
Fazei com que possamos continuar levando vantagem em tudo.

Ouvindo: N.A.S.A - O Pato