Tuesday, February 27, 2007

Portuga cabrón, saluda el campeón

É isso mesmo, a Equipe Cerca Frango foi campeã do Rally das Tascas 2007. Dois garotos e duas garotas, sendo que uma delas não bebia e a outra bebia por meia pessoa. Não digo que foi fácil, mas largamos em 5º lugar e cruzamos a linha de chagada (diga-se o último bar e o último copo) em 1º, com mais de 15 minutos de vantagem frente ao 2º colocado. Seguem algumas impressões:

A concentração: É nessa hora que você começa a imaginar a performance de seus adversários. Os que já estão bebendo antes da largada já não botam medo, fazem apenas pra impressionar e dar a idéia de serem verdadeiros borrachões. Temia apenas um cara forte, gordo, corado e que, pra felicidade de nossa equipe, participava apenas da organização.

O preço de um bom navegador: Nos últimos momentos antes das inscrições faltava-nos um membro para o time, que tem que ser composto obrigatoriamente por 4 pessoas. Chamamos a Ana Filipa, mas tinha um problema: a menina não bebe. Como não estávamos lá para competir, aceitamos e depois vimos o valor de um navegador sóbrio e bom conhecedor da cidade. Mas como o valor é alto, tivemos que pagá-lo bebendo toda a parte destinada a ela.

Meu fígado não é total flex: Achava que conseguia beber qualquer coisa sem passar mal, sem cair ou sem dar papelão. Ledo engano, já que meu organismo rejeita fortemente a bagaceira, aguardente feita de uva que foi servida já na reta final da competição. Saí do bar sabendo o que ia acontecer: duas gorfadas na calçada, só pra expulsar a maldita bebida.

E foi assim. Chegamos ao Speedy, o último dos bares para tomar calmamente um copo de receita (bebida feita com vinho, cerveja e refrigerante de limão) e esperar pela cara dos segundo colocados. Passamos por 14 bares, nos quais tomamos cerveja, vinho, shots de vodka, jeropiga e a puta da bagaceira. Parabéns para a equipe. A idéia de importar a brincadeira para o Brasil não me sai da cabeça. Só acho que precisamos de competidores mais preparados e eliminar a bagaceira do menu. Alguém enfrenta?

Ouvindo: Renato Fechine - Bebe Negão

Monday, February 26, 2007

Rally das Tascas

Querido diário,

Escrevo esse que pode ser meu último post contando a alegria de ter sido escolhido para participar da equipe Cerca Frango para concorrer no Rally das Tascas. Seria algo como Rally dos Botecos, uma maratoMa realizada anualmente pela Associação Acadêmica aqui em Braga. Apesar de ter um fígado 4X4, temo que a falta de um navegador venha a prejudicar meu desempenho e colocar em risco o meu retorno à vida social. Pelas informações que recebemos, teremos que passar por mais ou menos 20 tascas, em cada qual precisaremos cumprir algumas tarefas como beber um fino (chopp, pros menos íntimos) ou algum shot de bebidas fortes. Adoro cerveja e também não tenho medo de tomar o "quente", mas entro na competição só pela diversão, já que com álcool não se brinca. Quer dizer, brinca-se, mas não a sério.

Bem, fico por aqui, pois já tá na hora de começar. Torçam por mim. Se eu não voltar, saibam que sempre adorei os leitores daqui. E se minha mãe perguntar alguma coisa, digam que eu fui pra aula e só volto mais tarde.

Ouvindo: Bloco do Litrão - Ai meu fígado

Thursday, February 15, 2007

É Carnaval...

Um Pierrot apaixonado, que vivia só cantando, entra no salão mal iluminado, de decoração duvidosa que mistura palmeiras, tucanos e Momos de bochechas rosadas. Logo avista amigos de outros carnavais: Zezé e sua distinta cabeleira dançava sozinho como de costume, com seu olhar bêbado também de costume. Pierrot já não se questionava mais se ele é ou não é, mas cortar o cabelo dele não seria nada mal... Do outro lado do salão ele avista o Vovô, que com a poupança acumulada pela falta de sustentação de sua pipa, era o alvo perfeito para acabar com a dureza de nosso Pierrot:

- Ei você aí, me dá um dinheiro aí!
- Olha, não é que chegou o mais ilustre membro da turma do funil!
- Pois é, Vovô... Eu nunca durmo no ponto...
- E eles que ficam tontos, né? Toma lá, leva cinquentão, você acha que dá?

Se dava ou não dava era coisa pra se ver mais tarde, mas que era um bom começo, isso sim. Tempos difíceis de falência aqueles que passava em Aguinhas, cidade maravilhosa e cheia de encantos mil, que abrigara mais de centenas de carnavais antes da mudança para terras distantes. Mas que calor. Não era nenhum deserto do Saara, mas Pierrot precisou por várias vezes parar, parar para encher a cara, tentando aliviar o suor em bicas que insistia em tentar roubar sua maquiagem. Numa dessas o dinheiro ia embora junto com as caipirinhas que tomava e os outros drinques que oferecia a cada mulher que encostava ao balcão, pensando que cada uma se tratava de uma Colombina em especial. Na terceira, vestida de Mulher Maravilha, deu asas ao papinho cinco estrelas:

-Sabe, recordar é viver... Eu ontem sonhei com você!
- Recordar? Se liga, nem te conheço ...

Nunca tinha sido bom de xaveco e sempre que tentava lançava uma frase desse tipo, que logo o tirava da corrida.

- Pois é, mas seria bom... Quem sabe sabe, conhece bem, meu amor, como é gostoso gostar de alguém...
- Eu, hein. Acho que você já tá é bêbado demais, não acha?
- Querida, eu bebo sem compromisso, com meu dinheiro e ninguém tem nada com isso...

Mais uma de suas investidas tinha ido embora, assim como metade da maquiagem e dois terços da grana do Vovô. Quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão. Tá certo que não eram mais de mil, mas que havia pelo menos uns quinze palhaços, havia. Porém um deles chamava a atenção de nosso Pierrot, um Arlequim, que apoiado no outro extremo do balcão, chorava copiosamente no meio da multidão. Bailando ao som de intermináveis marchinhas, Pierrot logo alcança seu novo amigo:

- Que passa, meu amigo? Chorando uma hora dessas?
- É por causa dela...

Era ele, famoso violeiro do tempo de serenatas em bairros distantes. Por pouco não viraram verdadeiros amigos, tudo ficou só na lembrança e a distância impediu que qualquer coisa a não ser o respeito crescesse entre os dois. Soluçava e mal conseguia apontar para o outro lado do salão onde a mais bela do baile dançava rodeada por todos os outros palhaços, que cada um a sua vez tenatava em vão roubar o coração da moça. E era ela, a mulher que Pierrot tanto procurava, aquela que tinha mandado embora de sua vida há exatos 6 meses. Linda, morena, com covinhas nas bochechas e de um bailado que não podia confundir e, o pior, não podia esquecer. Eram dois palhaços chorando pelo amor da mesma mulher.

- Pára de chorar, meu amigo. Isso não te leva a lugar nenhum.
- Pois é, que atire a primeira pedra quem nunca sofreu por amor...

Vem chegando a madrugada, o sereno vem caindo. As músicas vão se repetindo, os bêbados caindo ainda mais rápido que o sereno. As luzes vão aumentando, a decoração vai se soltando das paredes, seu tempo está acabando. Deixa de lado o amigo, que de uma hora para outra tinha se transformado em seu algoz adversário. Pierrot agora caminha decididamente para o outro lado do salão, junto aos palhaços. É terça-feira, amanhã tudo volta ao normal, nada de fantasia bonita, só a carapuça que vestia a cada dia de cão que vivia nas ruas de Aguinhas. Era agora ou nunca mais, chegou chegando:

- Ei morena, deixa eu gostar de você!
- Você por aqui?
- Pois é, voltei. Tenho saudades, sabe?

Seu olhar tentava esconder a pontinha de alegria ao ver Pierrot, mas suas palavras censuravam seus olhos castanhos. Lacônica e irônica, como sempre ficava ao ser desagradada.

- Ah é? Que bom...
- E você, como tá?

Pierrot sempre fora mal nas tentativas de fazer fluir uma conversa sedutora. Preferia deixar essa parte a cargo do olhar, mas os olhos de sua Colombina eram fugidios como nunca antes tinham sido. Tentava falar mais de perto, colado ao ouvido dela, mas sutilmente tirava a cabeça ao ritmo das marchinhas.

- Tô bem, e você?
- Eu vô indo, sabe. É que...

Chega o violeiro, conhecido hoje como o Arlequim e, sem que Pierrot se apercebesse e pudesse se previnir, pega a Colombina pela mão a a carrega pelo salão. Não chora mais, apenas troca um sorriso luminoso de tão branco com sua amada. Ah, coração leviano, não sabes o que fez do meu. Logo ali, Vovô confirma as expectativas acerca de Zezé e acaricia sua cabeleira loira em um canto escuro. Já que a pipa não sobe mais, é hora de arrumar outros jeitos de ser feliz. Até que formam um casalzinho legal. Mais uma caipirinha, só pra embalar a caminhada e Pierrot deixa o salão. Amanhã é quarta-feira de cinzas. Depois do meio dia não existe mais Pierrot, não existe mais Colombina, tudo será mais claro e silencioso. Pierrot deixa o baile, cantando alto dentro de sua cabeça... "Tristeza, por favor vá embora, minha alma se chora, está vendo meu fim".

Ouvindo: Banda Grande Rio - Coletânea de Marchinhas

PS: Principalmente para o pessoal de Portugal, explico que esse texto foi inspirado e contém trechos de diversas marchinhas carnavalescas brasileiras. Essa é uma forma de me sentir mais perto do Carnaval brasileiro, que foi a primeira coisa que me fez sentir saudades verdadeiras de meu país.

Sunday, February 11, 2007

Bon jour!

Agora sempre que encontro alguém eu desejo bom dia. Pode ser política de boa vizinhança, quando aqui no prédio. Mas pode ser que seja apenas qualquer coisa que eu queira desejar, que comece o dia bem, simplesmente. Pra essas coisas um boa tarde ou boa noite não resolvem tão bem. Mas o que eu sinto falta, daquela falta que te deixa se sentindo o sujeitinho mais nhãpã do mundo é do seu bom dia. De acordar com seus cabelos finos enrolados em minha barba. É de acordar com seus olhos sonolentos me dizendo um bom dia meio mal humorado. Sinto falta muita de adormecer sentindo seu cheiro, a contar estrelinhas, a coçar o nariz com as cócegas do seu cabelo. Durmo e tento ir longe, chegar um pouco mais perto de um pouco de você que se possa alcançar. E quando alcanço, te pego pra mim e seguro forte, que é pra não errar mais uma vez. Rolo na cama e penso em seu travesseiro, nas caras e rostos que você ali encontrava. Queria colar meu cheiro ali pra sempre, ninguém tira, ninguém põe. E é por isso que eu sempre desejo bom dia. Esperando o seu sorriso, o seu cabelo enroscado em mim. Um dia chega esse bom dia. E todos serão melhores dali então...

Ouvindo: Mutantes - Quem tem medo de brincar (cantado pela sua irmã)

Sunday, February 04, 2007

Fechou o tempo, fechou a mão

Colaram meu amigo ontem. Saíram na mão com ele. Andou à porrada. Brigou. Tretou. Apanhou, bateu. Voltou com umas marcas no pescoço e na cara. Mas a cara de susto era o que mais me incomodava. Odeio briga. Desde a quarta série do primário que eu não mexo com isso. Agradeço pelo meu tamanho e pela cara de não mexe comigo que eu tenho. Mas depois que não tem volta, tem que ser. Fecha a mão e dá com força. É você pra um lado. O cara pra o outro. A cara de susto me incomodava muito. Queria sair dali, voltar pra rua e só dormir depois de me sujar com o sangue do filho da puta. Quem sabe levar um dente de souvenir. Adoro souvenires, mas não os compro. Têm mais valor quando levamos embora, tipo um cinzeiro, uma bandeira. Com certeza teria um bom lugar na minha casa pra colocar um ou dois dentes do filho da puta. A última coisa que eu faria era saber o nome dele. Pra colocar embaixo na moldura. "Filho da Puta, Lembrança de Portugal". Ou "Fui pra Portugal e lembrei de você". Galo de Barcelos é o caralho. E o arranhão na testa, a voz trêmula. Isso me incomodava. Mas não mais que outra coisa. Isso sim me dava vontade de sair na mão aliu dentro mesmo. Encher de porrada a cara de dois amigos que tavam junto com meu mano. Vacilaram. Pipocaram. Amarelaram. O cara chegou com o papinho tradicional de nego que quer entrar numas. O menu passa por "Ei, você não é aquele cara que mexeu com meu irmão?", "Tem um cigarro aí?". Qualquer resposta é inútil e o filho da puta vai conduzir a conversa até a hora de fechar o pau. Eram dois caras, mas só um era sangue ruim. O outro não tinha nem tamanho de homem. Do nosso lado, meu mano e mais dois. Vantagem? Vantagem o caralho. O filho da puta levou um papo que os brasileiros andam a matar portugueses, se meu mano não tinha medo dele e mais um monte de merdas. Fechou a mão e deu na cara. Gritaria. O amigo magrelo e os dois caras do nosso lado. Onde já se viu armar berreiro numa treta dessas? Vacilou, tomou o contrataque. Briga tradicional de quem não sabe lutar acaba no chão. Rola. Rola mais. Mais um pouco e o brother tava em cima do inimigo, pronto pra mostrar alguma coisa pro gajo. Aí aconteceu o que me deixou fodido pelo resto da noite. Os manos do nosso time segurando o companheiro. Gritando. Tirando a única chance do filho da puta levar um pouco do que procurava. Na briga não tem meio termo. Não tem em cima do muro. Ou você é São Paulo ou Corinhthians. O árbitro não existe. Não existe separar. Corre, chora, mas não separa. Fechou o tempo, fechou a mão. Veste a camisa e dá porrada até quando for possível. Ou até quando for preciso. Mas não separa não. Um dia vamos entrar em campo com o time titular, mais coeso. Os jogadores certos. Daí a gente arranja uns troféus pra levar pra o Brasil. Odeio violência. Odeio xenofobia no mesmo nível que odeio a porrada. Mas se o caldo já entornou, não sou eu quem passa o pano.

Ouvindo: Racionais MC´s - Trutas e Quebradas